A IDADE DE OURO
Anteriormente à época (Idade de Prata) em que se concebia o sagrado como hipostasiado em uma mulher transcendente, a Grande Mãe, resplandeceu no Norte, no paleolítico e no início do neolítico a civilização masculina dos pastores nômades, que era, por essência, teocrática e iniciática. É no seio desta civilização que reinou a Idade de Ouro, que não foi um período de preguiça e de voluptuosidade, mas uma era de incomparável ascese e de renúncia ao universo fenomenal. A beatitude, e a extraordinária longevidade, características destes tempos longínquos, não foram absolutamente devidas a facilidades externas de existência, mas à total maestria do pensamento humano sobre as sensações, e ao número muito reduzido das necessidades. Nada se pode entender desta Idade de Ouro, se perdemos de vista que se trata de uma concepção teocrática, repousando sobre a preponderância da mente e a extenuação da carne. No Gênesis, depois do enfraquecimento da teocracia paleolítica (= dos «filhos de Deus») pelos contatos com a civilização matriarcal (= com as «filhas dos homens»), YHWH declara (Gen VI,3): «Meu espírito não habitará sempre no homem, pois o homem não é senão carne». Este texto revelador bastaria para precisar em que se tinha consistido a idade que acabava de ter fim.