PIERRE GRISON — O TRATADO DA FLOR DE OURO DO SUPREMO UNO
Ensaio de Fotossíntese
O elemento «positivo» do método é tão insólito quanto original; deve reter nossa atenção na medida que uma terminologia deliberadamente críptica nos permite superar o estado das notas gerais e das suposições.
Todo o trabalho consiste em fazer girar, ao redor do «coração celeste» situado entre as duas sobrancelhas, a «luz» sobrenatural contida nos dois olhos, os quais são identificados ao Sol e à Lua.
Reconhece-se facilmente, neste «espaço de uma polegada», do qual falam os livros taoistas, o «terceiro olho» das doutrinas hindus, órgão da visão interior, do conhecimento intuitivo e sintético — a percepção sensível realizada pelos dois olhos dando acesso ao conhecimento distintivo, dualista, analítico. O olho frontal de Shiva, é em suma, a «manifestação» do órgão sutil designado pelo Budismo sob o nome de Prajna-chakshus (olho de prajna) ou Dharma-chakshus (olho de dharma), pelo Islã sob o nome de Ayn el-Qalb (olho do coração). Para o Tantrismo, o Bhrumadhya (espaço entre as sobrancelhas), também chamado Rudragranthi (nós de Rudra) é o assento de um dos seis chakras — Ajna — figurado pelo lótus branco de duas pétalas no coração do qual repousa a sílaba sagrada OM. O Tattwa que, lhe corresponde é manas, o mental, o que não pode ser sem relação com o fato que o Hatha-yoga dele faz o ponto de concentração essencial e que o Bhagavad Gita ele mesmo prescreve de aí «conduzir todo seu poder vital». É aí que deve ser realizada a «concentração dos pensamentos». No simbolismo abstruso das obras taoistas antigas, o cheou-tsouen é o vestíbulo de entrada do «Campo de cinabre superior» (chang tan-tien) composto de nove Palácios; o Palácio central — que se identifica por vezes ao Campo de cinabre inteiro — é chamado Nihouan, que é simplesmente a transcrição fonética de nirvana. A «Sala púrpura» de que aqui é questão é o segundo Palácio da sequência inferior, conhecido também sob o nome de «Câmara do Arcano» (tong-fang tsong). As outras expressões tais como «Palácio amarelo», «Passagem obscura», etc. Se explicam da mesma maneira por uma reminiscência confusa, mas real, da sutil topografia microcósmica dos velhos tratados.
«O coração celeste se situa entre o Sol e a Lua». Uma tal identificação dos dois olhos às duas luminárias não menos corrente. Ela é familiar no Bhagavad Gita, nos Upanixades: sol e lua são os olhos de Vaishwanara. Os mitos primordiais chineses fazem derivar o sol e a lua dos olhos de Pan-kou, ver daqueles de Lao-tse. No Tantrismo, os «três olhos» são designados como sendo o Sol, a Lua e o Fogo, o que é uma maneira de pô-lo sem relação com a natureza essencial dos três nadis: Pingala, Ida e Sushumna. Que nestes olhos esteja contida a luz, é o que exprime em sua perfeição o carácter ming (luz), composto dos dois caracteres je (sol) e yue (lua).