Podemos encontrar outras indicações interessantes nas significações da palavra árabe rukn, “ângulo” ou “canto”. Essa palavra, por designar as extremidades de uma coisa, isto é, suas partes mais recuadas e por consequência mais ocultas (recôndita e abscondita, poderíamos dizer em latim), toma, às vezes, o sentido de “segredo” ou de “mistério”. Sob esse aspecto, o plural arkan está próximo do latim arcanum, que tem o mesmo sentido, e com o qual apresenta uma semelhança surpreendente. Quanto ao mais, na linguagem dos hermetistas pelo menos, o emprego do termo “arcano” foi certamente influenciado de uma forma direta pela palavra árabe em questão. 16 Por outro lado, rukn tem ainda o sentido de “base” ou “fundação”, o que nos reconduz à comer-stone entendida como “pedra fundamental”. Na terminologia alquímica, el-arkan, quando essa designação é empregada sem outra indicação, refere-se aos quatro elementos, isto é, às “bases” substanciais do nosso mundo, que são comparáveis, assim, às pedras de base dos quatro ângulos de um edifício, visto ser sobre elas que, de algum modo, é construído todo o mundo corporal (representado pela forma quadrada). E por aí retornamos diretamente ao próprio simbolismo que nos ocupa no momento. De fato, não existe apenas esses quatro arkan ou elementos “básicos”, mas também um quinto rukn, um quinto elemento ou a “quintessência” (isto é, o éter, el-athir), que não se encontra sobre o mesmo “plano” dos outros, pois não é simplesmente uma base como eles, mas sim o próprio princípio deste mundo. Ele será portanto representado pelo quinto “angulo” do edifício, localizado em seu topo. É a esse “quinto”, na realidade o “primeiro”, que convém propriamente a designação de ângulo supremo, de ângulo por excelência ou “ângulo dos ângulos” (rukn el-arkan), pois é nele que a multiplicidade dos outros ângulos fica reduzida à unidade. Podemos ainda notar que a figura geométrica obtida pela junção desses cinco ângulos é a pirâmide com base quadrangular: as arestas laterais da pirâmide emanam do seu topo como raios, do mesmo modo que os quatro elementos comuns, representados pelas extremidades inferiores dessas arestas, procedem do quinto e são produzidos por ele. É também de acordo com essas mesmas arestas, que intencionalmente comparamos aos raios por essa razão (e também em virtude do caráter “solar” do ponto do qual provêm, conforme examinamos ao tratar do “olho” do domo), que a “pedra angular” do topo se “reflete” em cada uma das “pedras fundamentais” dos quatro ângulos da base.
Enfim, no que acaba de ser dito encontra-se a indicação muito clara de uma correlação entre o simbolismo alquímico e o simbolismo arquitetônico, que se explica, aliás, pelo seu caráter “cosmológico” comum. Trata-se de um ponto importante, sobre o qual voltaremos a propósito de outros paralelos da mesma ordem. [Guénon]