No início de seu livro Sobre os Atributos dos Amantes, Helali justifica sua própria atividade literária. Por que, afinal de contas, alguém deveria dizer alguma coisa? Sua resposta nos leva ao reino da metafísica. No Islã, a Revelação assume a forma do Alcorão, que é a Palavra ou Logos (kalam). (No cristianismo, assume a forma do próprio Jesus, um homem: mas Jesus também é o Logos, tanto para o cristianismo quanto para o Islã, que o conhece como kalemat-al’Llah, “a Palavra de Deus”). Para o Islã esotérico, o Livro ou a Palavra se refere, em última análise, à Criação como um todo e, portanto, à sua manifestação central, o Homem Perfeito (por exemplo, Jesus ou Maomé). Mas o Logos precede até mesmo a própria Criação. O Dia do Pacto, quando Deus perguntou: “Não sou eu o teu Senhor?” e o homem respondeu: “Sim, em verdade” (VII, 72), ocorre na “pré-temporalidade” (azal). Assim, a Palavra de Deus foi ouvida antes mesmo que Sua face (ou seja, Sua auto-manifestação formal) fosse vista.
A Palavra é o prefácio do Livro do Amor, o tesouro do Rei do Amor, a recompensa que você busca com o coração.
O que disse? O que quer que você diga é LOGOS, a prova incisiva do Intelecto, cuja ponta cortante é apenas a lâmina da língua que revela os fogos ocultos que abrasam o universo com a chama da vela do coração.
Se a Palavra não estivesse pintada na página cósmica, não haveria nenhum sinal de Adão ou do mundo, nenhuma conversa sobre passado ou futuro. Quem poderia ter acendido a misericórdia no coração do ladrão de corações? Quem poderia ter feito dos infiéis muçulmanos? ou feito os menestréis se alegrarem ou acendido mil chamas com um único sopro? LOGOS é Revelação e nós somos o Trono Supremo: Palavra é mágica e nós somos os encantadores.
A vida flui do discurso eloquente: onde há espaço para os milagres de Jesus? pois com esse sopro nós animamos um universo inteiro e o tornamos eterno.