Demian é um romance que gira à volta do problema da transformação, do crescimento espiritual do herói, um indivíduo que desde cedo, logo desde a infância, tem a consciência de que existem dois mundos bem demarcados, bem definidos, opondo-se um ao outro. Um a que se poderia chamar luminoso, ordenado, outro ligado à escuridão, ao caos de que toda e qualquer ordem está ausente. Sobretudo a ordem moral, do cristianismo ortodoxo. No Prólogo, Emil Sinclair explica como já abandonou esse caminho de uma ortodoxia estéril, e como aquilo que preza agora, acima de tudo, é o indivíduo e as suas experiências pessoais, únicas que para ele têm valor. Sinclair apresenta-se como um homem que busca, «ein Suchender» (G. W. vol. 5, pág. 8), um homem «da Via». Mas não é nos livros que espera obter alguma solução para os seus problemas. É no seu sangue, no obscuro impulso vital que o levará a si mesmo, por muito tempo e por muitos sacrifícios que lhe custe. A história que narra é a desse difícil trajecto.
Encontrámos em Demian uma simbologia tão rica, e tão bem definida, que agora será mais fácil entender as outras obras. Em Siddhartha a aventura que se narra é igualmente a de um homem em busca de si mesmo, ora optando por uma, ora por outra, das divindades do mundo, a da luz e a da sombra, a do puro espírito e a da pura matéria, até entender no fim que tudo é uno, que tudo se completa, que tudo são manifestações de uma mesma realidade mais vasta e mais complexa do que o homem normal consegue imaginar. (YCHesse)