Fiódor Dostoiévski. OS IRMÃOS KARAMAZOV. Tr. A. Augusto dos Santos. Mimética, 2019
— Que entende por isolamento?
— O que predomina por todo o lado, sobretudo nos nossos dias, e que não adquiriu todo o seu desenvolvimento e está ainda muito longe dos seus limites. Cada um tende a levar a sua individualidade a maior distância e deseja reter egoisticamente a vida em toda a sua abundância e plenitude. Mas todos esses esforços não conduzem à vida, mas ao suicídio, e em vez de conseguir o que se propunha, encontra-se no mais completo isolamento. A humanidade está hoje dividida em unidades, disseminada, cada homem mantém-se no seu buraco, afastado dos outros, escondendo-se a si mesmo, e a tudo quanto possui, dos demais. Acaba por repeli-los e ser ele próprio repelido. Os ricos encobrem-se e pensam: «Que força tenho e que segurança?» e não veem a sua impotência suicida, porque, acostumados a nã o confiar mais do que em si mesmos, e obstinados em não crer na ajuda dos demais, na do próximo e na da humanidade, tremem com medo de perder as riquezas e privilégios que conseguiram. Ninguém quer compreender, para escárnio dos homens da nossa época, que a verdadeira defesa tem de ser fundada numa solidariedade social e não no esforço individual isolado. Mas este individualismo nefasto tem de desaparecer inevitavelmente, e todos compreenderão quanto é irracional viver só. O homem será animado pelo espírito do tempo e o povo admirar-se-á de ter vivido tanto nas trevas sem ver a luz. E então aparecerá nos céus o sinal do Filho do Homem. Mas entretanto temos de abanar a bandeira. De quando em quando tem de haver um homem que, embora isolado e tido por louco, dê o exemplo e arranque as almas do seu isolamento e as exercite na paternidade, para que a grande ideia não morra.