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Karl: Por conta do medo controlas. Controlas por medo. Há um medo existencial imediatamente no momento que experiencias a ti mesmo como existência.
Q: O que fazer?
K: Não sei. Nada! Esta é a natureza do fantasma. É a dúvida do fantasma: sou ou não sou, e o que tenho que fazer para sobreviver. Então desde aí ele quer saber o que ele é, quem ele é… Toda esta tentativa de se conhecer a si mesmo vem do medo. Queres conhecer a ti mesmo porque tens medo. Quando não conheces a ti mesmo, algo pode acontecer que não gostes. Sempre queres te prevenir de algo que não gostas, ou algo desconhecido. O medo do desconhecido é o mesmo, queres fazer do desconhecido o conhecido. Não conheces Deus então queres conhecer Deus, isto vem do medo. Só te comportas porque temes a Deus. Temes ser punido pelo que talvez fizestes de errado, contra Suas regras.
Teu desejo de controle vem do medo da existência. O medo é primeiro, então vem o desejo de controle. Queres até controlar o medo. Pensas que quando conhece-te a ti mesmo podes controlar o medo. A ideia de Deus vem do medo. Do medo vem a ideia de Deus como o Salvador. Então crias um Deus que talvez possa te salvar, pois temes a existência, queres te sentir seguro. Queres controlar tua vida e precisas de uma ajuda de um cara maior.
Q: A ausência e a presença são Um só?
Karl: Se dizes que são Um, há Um demais. Ausência e presença não são diferentes em natureza. A luz de Shiva não é a natureza de Shiva, mas a luz não é diferente de Shiva. Mas a luz de Shiva não é a natureza de Shiva. Mas ainda assim a luz de Shiva não é diferente de Shiva.
Q: Então posso dizer que a luz emana de Shiva?
K: Não. Não podes dizer isto. Podes dizer, mas é estúpido. Nada vem de Shiva, caso contrário fazes de novo dois. Algo vem de algo, e isto que vem é diferente de onde veio. Queres fazer diferença, é um condicionamento que não podes evitar. Necessitas de diferenças porque sem diferenças não podes sobreviver como um russo, como um eu. Um “eu” precisa de diferenças. Não importa como defines a ti mesmo, pois para definir precisas de diferenças. Defines para controlar.
Q: Então a ausência depende da presença?
K: Não há ausência sem presença, nem presença sem ausência. Elas vêm juntas em dupla. Onde há ausência, há presença; onde há presença há ausência. Como os budistas dizem: forma é vazio; vazio é forma. Ambas não são diferentes em natureza e uma não pode ser sem a outra.
Q: Então o buscador quer estar na ausência, quer presença sem ter presença?
K: Ele quer ter o conforto da ausência, e não só temporariamente, mas permanentemente. Pois ausência é céu e presença é inferno. Ele sabe que na ausência não tem dor, sofrimento, miséria. Então quando tem a presença de um “eu”, o buscador está desejoso da ausência deste “eu”. Ou seja, o “eu” está buscando a ausência do “eu”. Ele quer permanecer na ausência porque a ausência é mais confortável do que a presença. A ausência do “eu” é mais confortável que a presença do “eu”. A experiência do impessoal é melhor do que a experiência do pessoal, então ele decide quero ser impessoal; quero ser um realizado que é consciência impessoal e não pessoal. Melhor ser não identificado que identificado. Uma consciência não identificada é melhor que uma identificada. Eis o inferno: fazer esta diferença. Fazes-te dependente da ausência, que o seu chamado conforto e relaxamento é dependente da ausência de algum fantasma que é confortável ou não.
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