K: Ramana chama de “estado natural”.
Q: É confuso o que dissestes anteriormente sobre “nada realmente acontece”, todavia quando Ramana teve sua experiência ainda jovem, houve alguma realização e então ele realizou sua natureza original?
K: Não ele não realizou. Tudo foi retirado dele por uma experiência ficando apenas “Isso-que-resta”. Que não pode ser modificado, diminuído, por nada, seja o corpo, o espírito, com-ciência (awareness). Tudo estava se retirando, mas ele ainda era Isso-que-ele-é. isto, não é realizar sua verdadeira natureza, mas apenas ser-Isso-que-se-é.
Q: O que é isto para ele? O que é realizar sua verdadeira natureza para ele?
K: Não chame “realizar”. Não é uma realização. Podes chamar Isso-que-é-sua-natureza-original, que é independente da presença de corpo, espírito, ou com-ciência (awareness). Só restando Isso-que-é-assim-como-é. Conforme Jesus quando foi crucificado, tudo lhe foi retirado, à força. Em Ramana se passou de outro modo. É sempre o mesmo, Isso-que-és é “Isso-que-resta”.
Q: Dirias então que tem algo diferente, antes deste incidente? Ou depois deste incidente? A natureza realizou seu próprio si-mesmo? O que era diferente antes e depois deste instante?
K: Pode-se dizer que antes do incidente havia um sistema de crença que fazia diferença entre o que sucedia. E depois do incidente não fazia mais diferença. Mas mesmo fazendo diferença antes, de fato não fazia a menor diferença. E agora que faz uma diferença, ainda assim não faz a menor diferença para Isso-que-és. Não é uma nova realização, está sempre aí. Foi, é e será o-que-é. Então não é uma nova realização. Não criou um “realizado”. É o que diz próprio Ramana. Ramana não é um “realizado”, é a natureza de Ramana, realidade sempre se realizando, e nunca precisa da realização de Ramana. Isto o que se aponta, não há nada de novo. Sua natureza já é agora e será como é. Não é como se te tornasses realizado. Não é tornar-se realizado e a realização desde então se tornou algo diferente. Não sempre foi como é.
Q: Ramana se deu conta do que aconteceu…
K: Não, queres fazer algo pessoal. Mas nunca é pessoal ou impessoal. É sempre a própria natureza de todos, como Isso que á vida ela mesma. Em uma pessoa normal, um buscador, há a experiência de um sistema de crença como uma ideia que Isso-que-és pode ser modificado por circunstâncias: pelo nascimento, nasces; pela morte, morres. Portanto, a experiência de Ramana foi que morrer acontece. Mas Isso-que-ele-foi, foi antes, foi, e será, esta experiência da morte. Portanto, a morte não pode lhe tocar. Isto não o faz não-nascido, ou algo semelhante. Apenas que sua natureza não é dependente da existência, de maneira alguma. Mas não o fez um “realizado”. Porque tu não és um “não-realizado”, como te vejo. Para mim não és diferente de Ramana, em natureza. Então, mesmo que não saibas agora, ainda és Isso-que-és.
Q: Mas, o antes e o depois?
K: A diferença é que não há antes e depois para Isso-que-és. Esta é a diferença. E o que tem um antes e um depois é um fantasma. E ser Isso-que-és é ser apesar de, anterior a, além de, este fantasma. Ser-Isso que não tem nem antes e nem depois. O fantasma tem um antes e um depois, sempre, uma estória. Mas Isso-que-és não tem nenhuma. Portanto, tua natureza nunca teve qualquer estória. Mas o que experiencias, o modo como te experiencias, tem uma estória. Mas apesar desta estória, és. Assim, apesar da experiência de nascer, do fantasma, existes absolutamente independente da presença ou ausência deste fantasma. Isto não como uma realização pessoal, isto sempre foi assim.
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