Q: Alguns mestres falam que se perde o falso senso de autoria (doership). O que isso significa?
K: Isso não significa nada. Não havia autoria antes e então não há autoria depois. Nunca houve nenhuma autoria. Então, como alguém pode perdê-la? Talvez eles percam a ideia de que podem perder alguma coisa. Que há algo para mudar ou há algo a perder.
Ramana dizia – Devoção da devoção, dás a doação. Transcendes o transcendente, renuncias a renúncia. Tudo isso é apenas ser Isso que és. Então, não é como se alguém tivesse feito isso.
Q: Mas isso acontece com alguém?
K: Não. Isso nunca acontece com ninguém. É um acidente.
K: Não é para acontecer. Isto nunca aconteceu com ninguém, nunca acontecerá com ninguém. Essa é a natureza de todos: já é a natureza de todos. Nada tem que acontecer. Não é um acontecimento, é um não–evento. É como se a existência se deparasse com algo – o que não deveria acontecer. Então há apenas um pôr-aparte-um-segundo – de nada. Mas não há consequência nisto. Não tem consequência; não tem impacto para ninguém.
Então, quem quer que diga que depois deste evento isto tudo aconteceu – é tudo besteira. Existem alguns caras raros como Nisargadatta ou Ranjit Maharaj, eles dizem que nada aconteceu. Mas há muitos outros que dizem: desde essa data, desde que caí do banco, há um agora (referência a Eckhart Tolle). Agora há um agora. Então, tem mestres e tem gente que chega tarde demais.
E eu sempre encontro pessoas que já estão de saco cheio. Elas já estão cheias de que têm que fazer algo. Elas estão apenas exauridas – refugos. (Risos) Eis uma descrição correta para todos vocês? Olhe para elas – refugos exauridos. Elas apenas aguentam – Elas não sabem o quê, mas apenas aguentam. (Risos) Elas não sabem mais por que estão aqui ou o que estão fazendo ou algo assim. (Risos) É uma ressaca de existência.