O que é esse ‘eu’? Um fantasma. O fantasma precisa sobreviver, precisa de algo. Ele precisa sofrer porque, sem sofrer, não existe. Então cuidas do seu sofrimento. Certificas-te de que sofre, porque apenas no sofrimento existes, apenas no distúrbio que podes existir. Em harmonia não podes existir. Então, fazes o teu melhor para criar perturbações para poderes existir. Quando há harmonia, quando há paz, não podes permanecer como és, então tentas sobreviver e só podes sobreviver em desarmonia. Essa é a natureza do ‘eu’, não podes existir em harmonia. Toda noite, quando calas a boca, a harmonia começa … porque quando estás, a harmonia não pode ser. E toda manhã a desarmonia acorda. O corpo já é uma desarmonia. É uma experiência desconfortável. Depois vem a história da desarmonia: então tentas trazer harmonia à desarmonia, esse é o teu trabalho diário. Diariamente tentando trabalhar, tentando te curar, tentando estar em harmonia com esse corpo, cuidando apenas dele para que não o perturbe. Mas cuidar de não incomodá-lo cria a perturbação. Dás atenção ao corpo porque achas que o corpo não deve te perturbar para ser saudável.
Mas ser Isso-que-é não precisa de nenhuma harmonia … É harmonia. E isto que precisa de harmonia é algo artificial. Buscas uma harmonia artificial ao tentar entender as coisas, porque então ficas confortável, porque então te situas em consentimento.