Malista anthropoi chresmoidousin, hotan mellosin apothaneisthai. “As pessoas profetizam especialmente”, como se supõe que Sócrates tenha dito, “pouco antes de morrer”. Essa tradição de divinare morientes — de os moribundos serem capazes de ver como profetas, falar como profetas, durante seus últimos momentos cruciais em vida — tem sido extremamente importante em toda a literatura ocidental, bem como dentro da textura física da vida das pessoas. (nota)
E além desse elemento vital de profecia no momento de deixar o corpo, de receber a percepção necessária para ver com precisão o futuro que se aproxima, outros elementos mais humanísticos também entraram em ação de forma a definir os aspectos essenciais da ars vivendi — ou a arte de viver — e da ars moriendi — ou a arte de morrer — durante os séculos anteriores à época de Jung.
Uma delas era a compreensão de que, no momento da morte, as máscaras são finalmente retiradas. Toda a falsificação, a postura e o ocultamento, todas as ambiguidades extravagantes e a conversa fiada dão lugar à honestidade nua e crua. “Não há mais como fingir”, como disse Montaigne no século XVI: você simplesmente mostra o que está “no fundo do pote”.
E outra questão tinha a ver com as atitudes e a capacidade de resposta dos vivos. Havia um entendimento perfeitamente intuitivo de que a verdadeira função dos membros da família é estar ao lado com total sensibilidade e apoio durante esse momento crítico de transição, porque o que a pessoa que está morrendo experimenta, vê e tenta transmitir na hora mortis, a hora da morte, é como uma biografia condensada — um resumo de toda a vida que acabou de ser vivida.
Mas ainda mais urgente e crítico em certos círculos era a importância da presença de um amigo próximo e de confiança, como “o intermediário essencial entre um orador moribundo e o público”, para registrar as palavras e os gestos finais da pessoa; preservar fielmente cada detalhe deles; e, acima de tudo, transmiti-los completa e desinteressadamente às pessoas em geral para o bem das gerações futuras.
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