Gnosticismo

(Hanegraaff2006)

[…] O termo “Gnosticismo” foi originalmente um rótulo pejorativo, cunhado no século XVII pelo platonista de Cambridge Henry More. Ao adotá-lo como uma categoria supostamente neutra para fins acadêmicos, os historiadores também incorporaram em grande parte a suposição de que realmente existira um sistema religioso distinto que poderia ser chamado de Gnosticismo e que poderia ser claramente definido em oposição à Igreja cristã primitiva. Nas últimas décadas, no entanto, tornou-se cada vez mais claro que qualquer reificação do “Gnosticismo” é insustentável e leva a simplificações históricas; a ideia de uma oposição clara entre Cristianismo e Gnosticismo, na verdade, reflete estratégias heresiológicas por meio das quais certas facções e seus porta-vozes buscaram (com sucesso, como se viu) consolidar sua própria identidade como cristãos “verdadeiros” ao construir um outro negativo: os adeptos da “gnose falsamente assim chamada”, demonizados como inimigos da verdadeira fé.

Historicamente, porém, é mais preciso ver esses últimos, que frequentemente seguiam sistemas gnósticos mitológicos, como representantes de um movimento muito mais amplo e diversificado — ou de um tipo de religiosidade “caracterizado por uma forte ênfase no conhecimento esotérico (gnose) como único meio de salvação, o que implicava o retorno à origem divina”.² A esse movimento mais amplo da Gnose na Antiguidade Tardia pertenciam não apenas o “Gnosticismo”, mas também, cada um à sua maneira, cristãos como Clemente de Alexandria e, sobretudo, as correntes que inspiraram a literatura Hermética.