Hermetismo

(Hanegraaff2006)

No domínio do Hermetismo, a pesquisa acadêmica também foi longamente influenciada por distinções artificiais em preto e branco, baseadas em agendas normativas. Os grandes pioneiros desse campo, Walter Scott e André-Jean Festugière, opuseram radicalmente um Hermetismo “erudito” ou “filosófico” a um Hermetismo “popular”: as visões de mundo da primeira categoria mereciam o respeito dos estudiosos sérios, enquanto as práticas “ocultas” e “supersticiosas” da segunda (hoje referidas de forma mais neutra como hermetica “técnica”) também precisavam ser estudadas, mas eram tratadas com desdém como meros “montes de lixo”.

Um viés igualmente importante foi o foco quase exclusivo de estudiosos como Festugière nas dimensões gregas e filosóficas da literatura hermética, em detrimento de suas raízes egípcias — uma ênfase que ecoa percepções de longa data do Egito como terra do paganismo e da idolatria, em oposição à Grécia como berço da Razão e do Iluminismo. O avanço no estudo do Hermetismo nas últimas décadas consistiu essencialmente em corrigir esses vieses com base em pesquisas filológicas e críticas das fontes. Hoje, a centralidade da religião egípcia para a compreensão da literatura hermética não é mais posta em dúvida; e ficou claro que os hermetica “filosóficos” e “técnicos” são, na verdade, produtos do mesmo meio intelectual pagão no Egito greco-romano e, portanto, devem ser vistos como intimamente conectados.