Boécio (486-525)
Ancius Manlius Torquatus Severinus Boecius nasceu em Roma. Cônsul em 510, esteve a serviço de Teodorico, rei dos ostrogodos. Acusado mais tarde de traição e práticas mágicas, foi encarcerado em Pavia e executado.
Boécio foi chamado de “o último romano e o primeiro escolástico”. Sua obra, de fato, é um exemplo quase perfeito de uma obra limite, e expressa a intenção de conservar para o futuro o que ameaçava ser ruína e parecia estar a ponto de ser destruído” (Ferrater Mora, Diccionario de filosofia, ver Boécio).
Boécio assumiu a tarefa de interpretar e traduzir as obras de Platão e de Aristóteles e de demonstrar seu acordo fundamental. Apenas parcialmente conseguiu realizar esse vasto projeto. Temos as traduções dos Analíticos I e II de Aristóteles, além de Tópicos, Elencos sofísticos e Da interpretação, com dois comentários. Possuímos a tradução das Categorias, com um comentário. Também temos sua tradução da Isagoge de Porfírio, com comentário e outros trabalhos da Lógica. Sobre Platão, que saibamos, não traduziu nem comentou nada.
Porém a sua mais famosa obra é De consolatione philosophiae, escrita em forma retórica e alegórica. Apresenta-se à filosofia em forma de uma nobre dama que reconforta Boécio e responde às suas dúvidas. Está dividida em cinco livros, em verso e prosa. Nela aparecem dados biográficos importantes para conhecer a vida e o estado de ânimo de seu autor. Seu conteúdo é o seguinte: Livro I: A filosofia vem para consolar Boécio no triste estado em que se encontra. Livro II: Mostra a Boécio que a felicidade não se encontra nos bens mutáveis da fortuna. Livro III: Teoria da felicidade, fundamentada no próprio Deus, que é o bem supremo. Livro IV: Deus reitor do mundo: expõe sua teoria da providência e do destino.
O fato de não se encontrar na obra nada especificamente cristão, deu lugar à crença de que Boécio não era cristão, ou o era somente de nome. Por isso alguns colocaram em dúvida seus opúsculos teológicos: De Sancta Trinitate; De fide; Liber contra Nestorium etc. Com exceção de De fide, a autenticidade desses opúsculos está comprovada. Por outro lado, o livro De consolatione philosophiae, embora careça de referência para os mistérios do cristianismo, está cheio daquele espírito platônico ou neoplatônico que os escritores da patrística consideram substancialmente cristão.
A importância de Boécio para a cultura medieval foi muito grande. As traduções e os escritos lógicos de Boécio asseguraram a sobrevivência da lógica aristotélica, ainda no período de maior obscurantismo medieval, e fizeram dela um elemento fundamental da cultura e do ensino do medievalismo. Fundamentalmente, Boécio é um transmissor de cultura. Não é um pensador original, mas soube unir a mentalidade latina à especulação grega. Seguindo Santo Agostinho, une, na medida do possível, a fé e a razão.
BIBLIOGRAFIA: Obras: PL 63-64 e no Corpus de Viena, vol. 48. (Santidrián)