Há ainda o caso não menos dramático dos BORORÓs do Mato Grosso no Brasil, caso discutido brilhantemente por Claude Lévi-Strauss em seu livro Tristes Trópicos. Tradicionalmente, a aldeia BORORÓ organizava-se em um círculo irregular em redor da casa dos homens e do terreno de danças; e estava também dividida em quatro por dois eixos – um no sentido norte-sul e outro no sentido leste-oeste. Essas divisões governavam toda a vida social da aldeia, especialmente os sistemas de casamento e de parentesco. Os missionários salesianos, os primeiros a lidar com a tribo, pensaram que a única maneira de ajudar aos indígenas era convencê-los a abandonar sua forma tradicional de aldeia e estabelecer uma nova. Esses missionários, caridosos e bem intencionados, redividiram a aldeia de uma maneira que pensavam ser mais prática e conveniente em que as tabas se organizavam em fileiras paralelas. Essa reorganização destruiu completamente o complexo sistema social BORORÓ, estreitamente relacionado com o traçado da aldeia tradicional, que não pôde sobreviver ao transplante para um ambiente físico diferente. O que foi ainda mais trágico é que os BORORÓs, apesar de sua maneira quase nômade de viver, sentiram-se completamente desorientados no mundo, desde que foram removidos de sua cosmologia tradicional, representada no plano da aldeia. Sob tais condições eles aceitaram qualquer explicação oferecida pelos Salesianos para o seu universo novo e confuso. (Eliade)