Uma outra significação dos dois rostos de Jano: ele é o “Senhor de dois caminhos” que dão acesso às duas portas solsticiais. Esses dois caminhos, o da direita e o da esquerda, que os pitagóricos representavam pela letra Y, aparecem também sob uma forma exotérica, no mito de Hércules entre a virtude e o vício. São os mesmos dois caminhos que a tradição hindu, por seu lado, designa como o “caminho dos deuses” (deva-yana) e o “caminho dos antepassados” (pitri-yana). E Ganesha, cujo simbolismo tem inúmeros pontos de contato com o de Jano, é também o “Senhor dos dois caminhos”, como consequência imediata de seu caráter de “Senhor do Conhecimento”, o que nos leva de novo à ideia da iniciação aos mistérios. Enfim, esses dois caminhos são ainda, em certo sentido, tal como as portas pelas quais se tem acesso a eles, o caminho dos céus e o dos infernos. E podemos notar que os dois lados aos quais correspondem, à direita e à esquerda, são os mesmos em que se dividem os eleitos e os condenados nas representações do Juízo Final que, por uma coincidência muito significativa, encontram-se com grande frequência nos portais das igrejas, e não em outra parte qualquer do edifício. Essas representações, tais como as do Zodíaco, exprimem, é o que pensamos, alguma coisa inteiramente fundamental na concepção dos construtores das catedrais, que se propunham a dar as suas obras um caráter “pantacular”, no verdadeiro sentido dessa palavra, isto é, torná-la uma espécie de compêndio sintético do Universo. Essa concepção está também implicada de certo modo no próprio plano da catedral (Guénon)