Até aqui, apenas consideramos o ser em si mesmo ou segundo as propriedades que lhe convêm universalmente. Com as categorias abordamos o estudo das suas modalidades particulares, a dos tipos de ser realmente distintos uns dos outros. Que haja uma multiplicidade de tais modalidades é um fato que se impôs de maneira manifesta a Aristóteles. Indutivamente ou por análise do dado, Aristóteles foi conduzido a reconhecer a existência de dez gêneros supremos do ser, cuja coleção tornou-se clássica na sua escola. Estes gêneros se dividem seguindo a dicotomia maior da substância, ser que é em si, e do acidente, ser que somente pode existir em outro; o acidente se distingue em nove modos, a quantidade (quantitas), a qualidade (qualitas), a relação (relatio), a ação (actio), a paixão (passio), o lugar (ubi), a posição (situs), o tempo (quando), a posse (habitus).
Já sabemos que as categorias são modos analógicos do ser. Elas constituem, para Aristóteles, o caso típico da analogia de atribuição. Assim como a medicina, a urina etc. . . são ditas sãs em relação à saúde possuída propriamente pelo vivente, assim os diversos acidentes são ditos ser em relação à substância, o ser por excelência. Entretanto, como o ser é também análogo segundo uma analogia de proporcionalidade, os acidentes são igualmente ser. Contudo, o ser primeiro e fundamental é a substância e é por isto que nossa reflexão se concentrará principalmente sobre essa categoria.
Observemos desde agora que as categorias na sua totalidade não podem convir senão aos seres materiais, aquelas que se reportam à quantidade não têm evidentemente lugar no domínio das substâncias espirituais. Por outro lado, para Tomás de Aquino, esta divisão do ser só se aplica ao ser criado. Deus permanece, portanto, acima dos gêneros supremos: donde decorre, em particular, que é ilegítimo defini-lo, como se faz por vezes, definindo-o como uma substância; neste ponto o próprio pensamento de Aristóteles permanece assaz ambíguo. (Gardeil)