Se a caverna não tem outra passagem além da do topo, esta deveria servir tanto para a entrada como para a saída, o que não está de acordo com o seu simbolismo. Logicamente, a entrada deveria encontrar-se num ponto oposto, seguindo o eixo, isto é, no solo, no centro da própria caverna, aonde se chegaria por uma via subterrânea. Contudo, tal modo de entrada não conviria aos “grandes mistérios”, pois essa entrada só corresponde na verdade ao estádio inicial, que nesse caso já foi transposto há muito tempo. Seria preciso, portanto, supor que o recipiendário, que entrou por essa via subterrânea para receber a iniciação aos “pequenos mistérios”, permanece a seguir na caverna até o momento do seu “terceiro nascimento”, de onde sai em definitivo pela abertura superior. Isso é admissível teoricamente, mas sem possibilidade evidente de ser colocado em prática de modo efetivo. (Guénon)
A caverna iniciática é considerada como uma imagem do mundo. Mas por outro lado, em razão de sua assimilação simbólica ao coração, representa de modo mais específico o lugar central. Pode parecer que exista aí dois pontos de vista diferentes, mas, na realidade, não se contradizem de modo algum; e o que expusemos a respeito do “Ovo do Mundo” basta para conciliá-los e mesmo identificá-los num certo sentido. (Guénon)
Quando o que está fora da caverna representa apenas o mundo profano ou as trevas “exteriores”, a caverna aparece como o único lugar iluminado, e aliás necessariamente iluminado do próprio interior. Nenhuma luz, de fato, poderia então vir de fora. Agora, visto que é preciso ter em conta as possibilidades “extracósmicas”, a caverna, apesar de toda essa iluminação, torna-se em comparação relativamente obscura, não diríamos mais sem distinção com o que está fora dela, mas sim de modo preciso com o que está acima dela, além de sua abóbada, pois é exatamente isso o que representa o domínio “extracósmico”. Poderíamos então considerar, de acordo com esse novo ponto de vista, a iluminação interior como sendo apenas um reflexo da luz que penetra através do “teto do mundo”, pela “porta solar”, que é o “olho” da abóbada cósmica ou a abertura superior da caverna. Na ordem microcósmica, essa abertura corresponde ao Brahma-randhra (o sétimo chakra), isto é, ao ponto de contato da individualidade com o “sétimo raio” do sol espiritual, ponto cuja “localização”, segundo as correspondências orgânicas, encontra-se na coroa da cabeça, e que é ainda representado pela abertura superior do atanor hermético. (…) A caverna, portanto, poderá ser também identificada simbolicamente tanto ao “ovo filosófico” quanto ao atanor, segundo se refira aos diferentes graus de desenvolvimento no processo iniciático, mas em todo caso sem que sua significação fundamental seja de algum modo alterada. (Guénon)