Não é necessário refletir muito tempo para se dar conta disso, pois basta apelar para as noções mais elementares da física: existem três cores fundamentais, o azul, o amarelo e o vermelho, e três cores complementares às primeiras, ou seja, respectivamente, o laranja, o violeta e o verde, o que dá seis cores ao todo. Há ainda, naturalmente, uma infinidade de matizes intermediários entre essas cores, onde a transição de um para outro se opera na verdade de forma contínua e insensível. Não existe evidentemente nenhuma razão válida para acrescentar qualquer um desses matizes à lista das cores, ou então, nesse caso, poder-se-ia considerar um grande número deles; nessas condições, no entanto, a própria limitação das cores a sete se tornaria no fundo incompreensível.

Não sabemos se algum adversário do simbolismo algum dia fez essa observação. Seria surpreendente que não tivesse aproveitado a oportunidade para qualificar esse número de “arbitrário”. O índigo (ou anil), que se costuma enumerar entre as cores do arco-íris, não passa na realidade de um simples matiz intermediário entre o violeta e o azul, e não há qualquer razão especial para considerá-lo como uma cor distinta se comparado a outros matizes como, por exemplo, o verde-azul ou o azul-marinho. Além disso, a introdução desse matiz na enumeração das cores destrói completamente a harmonia de sua repartição que, se nos referirmos pelo contrário à noção correta, efetua-se regularmente de acordo com um esquema geométrico muito simples e, ao mesmo tempo, muito significativo do ponto de vista simbólico. Com efeito, podemos colocar as três cores fundamentais nos três vértices de um triângulo e as três cores complementares nos vértices de,um segundo triângulo invertido em relação ao primeiro, de tal modo que cada cor fundamental e sua complementar encontrem-se colocadas em pontos diametralmente opostos. A figura assim formada é, em suma, o “selo de Salomão”. Se traçarmos o círculo no qual está inscrito o duplo triângulo, cada uma das cores complementares ocupará o ponto situado no meio do arco compreendido entre os outros pontos em que estão colocadas duas cores fundamentais, de cuja combinação ela resulta. Os matizes intermediários corresponderão naturalmente a todos os demais pontos da circunferência; mas, no duplo triângulo, que neste caso é o essencial, só existe de fato lugar para seis cores. Essas considerações poderiam parecer simples demais para que fosse útil insistir tanto sobre elas. Mas, para dizer a verdade, é necessário muitas vezes lembrar coisas desse gênero para retificar ideias comumente aceitas, pois o que deveria ser o mais evidente de imediato é precisamente o que as pessoas não sabem ver. (Guénon)