Dionísio o Areopagita

Areopagita, Pseudo-Dionísio (séc. 1V-V)

Eis um autor tão citado quanto desconhecido. Seus escritos começaram a ser conhecidos nos princípios do século VI, e seu autor foi identificado como Dionísio Areopagita, transformado pela pregação do apóstolo São Paulo no areópago de Atenas (At 17,34). A crítica interna e externa destes escritos os situam nos finais do séc. V, sendo impossível sua atribuição a Dionísio Areopagita. De fato, sua fonte principal é o neoplatônico Proclo (411-485), de quem o autor inclui textos completos.

Os livros do Pseudo-Dionísio inspiram-se na direção da filosofia neoplatônica, adaptando-a, da melhor forma possível, às exigências cristãs. Servem-se da terminologia dos mistérios, onde o neoplatonismo se comprazia. Traduzidos para o latim por Hilduino e Juan Scoto Eriúgena, foram objeto de comentários por muitos autores, entre os quais Hugo de São Vítor, Roberto Grosseteste, São Boaventura, Santo Alberto Magno, Santo Tomás. Foi vastíssima sua influência na Idade Média e constituiu o fundamento da mística e da angelologia medieval.

As principais obras do Pseudo-Dionísio são: a) Teologia mística. Formula uma teologia afirmativa que, partindo de Deus, dirige-se para o infinito com a determinação dos atributos ou nomes de Deus. Todo o conhecimento de Deus vem do próprio Deus. O que se pode dizer dele, de acordo com os nomes que aparecem nas Escrituras constitui o tema da teologia afirmativa. Existe também uma teologia negativa, que parte do infinito para Deus e o considera acima de todos os predicados e nomes com que se pode designá-lo. Segundo a teologia mística, o mais alto grau de conhecimento é o não saber místico: somente prescindindo de toda a determinação de Deus, compreende-se Deus em seu ser em si mesmo, b) Sobre os nomes divinos. Nesta obra, o Pseudo-Dionísio insiste na impossibilidade de apreender e designar adequadamente a natureza de Deus, que é superior à própria unidade tal como nós a concebemos: é o uno super-essencial, causa e princípio de todo número e de toda ordem. Deus não pode ser designado como unidade, nem como trindade, nem como número. Nenhum termo com que designamos as coisas finitas pode designá-lo. Nem sequer o próprio nome de bem, o mais elevado de todos, é adequado à sua perfeição divina. Tal é a teologia superlativa, consistente em admitir os nomes de Deus, mas sem poder concebê-los.

O Pseudo-Dionísio entende a emanação das coisas de Deus — como forma de todas as ideias ou modelos de todas as realidades — como criação. O mundo é produto da vontade divina, não um estágio do desenvolvimento de Deus. Os seres do mundo são símbolos ou manifestações de Deus. As coisas visíveis são um degrau ou escala que permite ao homem ascender até Deus e deste modo refazer, inversamente, o caminho da criação.

Existem outros tratados do Pseudo-Dionísio: Sobre a hierarquia celeste e Sobre a hierarquia eclesiástica. Na primeira concebe-se Deus como centro das esferas nas quais se ordenam todas as coisas criadas. As criaturas mais perfeitas são as mais próximas dele. A hierarquia celestial é constituída por anjos, distribuídos em nove ordens e reunidos em formações ternárias. Da seguinte forma: 1) tronos, querubins e serafins; 2) potestades, dominações e virtudes; 3) anjos, arcanjos e principados.

A hierarquia celestial corresponde a eclesiástica, disposta igualmente em três ordens: 1) constituído pelos mistérios: batismo, eucaristia, ordem sagrada; 2) o bispo, o sacerdote, o diácono; 3) catecúmenos, possessos e penitentes, isto é, os que são conduzidos à graça divina pelos administradores dos mistérios.

O fim da vida eclesiástica é a deificação ou transfiguração do homem em Deus. Isto se consegue mediante a ascensão mística. Seu cume é o não saber místico, a muda contemplação do uno. A conclusão é uma teologia mística, pela qual o homem alcança o supremo saber através da suprema ignorância.

BIBLIOGRAFIA: Obras: PG 3 e 4; (BAC); Diccionario de filósofos. Rioduero, Madrid 1987, 351-354. (Santidrián)