inteligência

Uma das chaves para a compreensão de nossa verdadeira natureza e de nosso destino último é o feito de que as coisas terrenas nunca estão proporcionadas à extensão real de nossa inteligência. Esta, ou está feita para o Absoluto, ou não é; só o Absoluto permite a nossa inteligência poder inteiramente o que ela pode, e ser inteiramente o que é. O mesmo para a vontade, que, além do mais, nada mais é que uma prolongação, ou um complemento, da inteligência: os objetos que ela mais se propõe ordinariamente, ou que a vida a impõe, não alcançam sua envergadura total; somente a “dimensão divina” pode satisfazer a sede de plenitude de nosso querer ou de nosso amor.


Tem que conhecer o continente e não dispersar-se nos conteúdos. O continente é em primeiro lugar o milagre permanente da existência; é, em continuação, o da existência ou da inteligência, e depois o do gozo que, como um poder expansivo e criador, preencha, por assim dizer, os “espaços” existencial e intelectual.


Ser inteligente é saber distinguir entre o essencial e o secundário; mas é também pressentir as essências ou os arquétipos nos fenômenos. Ou seja que a inteligência possa ser, ou bem discriminativa, ou bem contemplativa, a menos que o discernimento e a contemplação estejam em equilíbrio.


A inteligência, em quanto nos pertence, não se basta a si mesma, necessita a nobreza da alma, a piedade e a virtude para poder superar sua particularidade humana e alcançar a inteligência em si.


A inteligência do animal é parcial, a do homem é total; e esta totalidade só se explica por uma realidade transcendente à qual a inteligência está proporcionada.


A objetividade, pela qual a inteligência humana se distingue da inteligência animal, estaria desprovida de razão suficiente sem a capacidade de conceber o absoluto ou o infinito, ou sem o sentido da perfeição.


A objetividade é a essência da inteligência, mas a inteligência está muito longe de ser sempre conforme a sua essência.


A inteligência é bela quando não destrói a , e a somente é bela quando não se opõe à inteligência.


O fato de que o realismo espiritual, ou a , proceda da inteligência do coração e não do mental permite compreender que na espiritualidade a qualificação moral seja mais importante que a qualificação intelectual, sobejamente.


Tudo já está dito, e incluso bem dito; mas sempre é necessário recordá-lo de novo, e ao recordá-lo, fazer o que sempre se há feito: atualizar no pensamento as certezas contidas, não no ego pensante, senão na substância transpessoal da inteligência humana. Humana, a inteligência é total, logo essencialmente capaz de absoluto e, por isso mesmo, do sentido do relativo; conceber o absoluto é também conceber o relativo como tal, e é, em continuidade, perceber no absoluto as raízes do relativo e, neste, os reflexos do absoluto. (Schuon PP)