Nas diversas tradições, fala-se com frequência de uma linguagem misteriosa denominada “linguagem dos pássaros”, designação evidentemente simbólica, pois a importância atribuída a ela, como prerrogativa de uma alta iniciação, não permite que seja tomada de forma literal. Tanto é, que se lê ainda no Alcorão: “E Salomão foi o herdeiro de Davi; e disse: Ó homens, temos sido instruídos na linguagem dos pássaros (ullimna mantiqat-tayri) e cumulados de todas as coisas…” (XXVII, 15). Por outro lado, vê-se que os heróis vencedores do dragão, como Siegfried na lenda nórdica, compreendem também a linguagem dos pássaros, o que nos permite interpretar facilmente o simbolismo em questão. Essa conquista da imortalidade implica essencialmente a reintegração no centro do estado humano, isto é, no ponto em que se estabeleceu a comunicação com os estados superiores do ser. Tal comunicação é representada pela compreensão da linguagem dos pássaros, pois, de fato, os pássaros são tomados com frequência como símbolo dos anjos, ou seja, precisamente dos estados superiores. Já tivemos ocasião de citar, em outra parte, a parábola evangélica na qual se fala, nesse sentido, de “pássaros do céu” que vêm pousar sobre os ramos da árvore, a mesma árvore que representa o eixo que passa pelo centro de cada estado de ser, ligando todos os estados entre si. (Guénon)