mitos gregos

Os gregos pensaram de forma mitológica, escreveram e falaram assim até o século VI a.C. Depois, deu-se uma mudança de pensamento. As narrativas sobre os deuses foram substituídas pelos raciocínios, a medicina por sortilégio cedeu lugar à medicina dos regimes, escuta-se mais o sofista do que o oráculo. A passagem não se deu brutalmente. Em Pitágoras e Platão encontram-se os mitos e os discursos.

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De fato, todos os mitos não são esotéricos, no sentido preciso da palavra. Sem dúvida eles nos escapam, porque atualmente pensamos em termos experimentais e conceituais, mas a maioria dos mitos reconduz, com profundidade, à cultura e à religião. O mito de Ares (o deus da guerra) possui um valor teológico e literário. O mito de Demetér apresenta uma estrutura e uma finalidade esotéricas. Ele sacrifica para se iniciar como o mito de Ares sacrifica para se cultivar.

Os neoplatônicos e os neopitagóricos têm colocado em questão uma hermenêutica sutil que visa encontrar por trás de cada mito um ritual de iniciação ou uma ideia oculta. A Odisseia e o panteão eram interpretados através das provas mistéricas ou por meio do Timeu de Platão. O modelo do gênero permanece o opúsculo de Porfírio, De l’antre des nymphes (Do antro das ninfas).

Por meio de quais autores se conhece os mitos gregos? Há em primeiro lugar dois escritores: Homero e Hesíodo; em seguida, dois pesquisadores: Estrabão e Pausânias; por fim, um gramático, Apolodoro de Atenas. Platão escreveu textos que são verdadeiros mitos como, por exemplo, a narrativa de Er de Panfília sobre a metempsicose (A república, X) ou a narrativa sobre a Atlântida (Timeu, Crítias). (Riffard)