Pode-se relacionar a Retórica com o conjunto dos escritos lógicos do Organon. O próprio Aristóteles nos orienta nesse sentido, ligando-a a várias considerações da dialética. Ambas as disciplinas têm como objeto ensinar-nos a discutir sobre todos os assuntos, usando somente argumentos e princípios comumente aceitos.
A finalidade, os meios e as divisões gerais da Retórica estão indicados nos três primeiros capítulos do 1. I. — A Retórica é a arte de persuadir ou, mais precisamente, “a faculdade de ver todas as maneiras possíveis de persuadir as pessoas sobre qualquer assunto”. — Os meios propriamente oratórios de persuadir são de três espécies. Os primeiros se relacionam com o caráter do orador: este deve falar com sucesso, inspirar confiança. Os segundos consistem em fazer nascer uma emoção no ouvinte. Finalmente, os últimos, que são tecnicamente os mais importantes, compreendem as provas ou argumentos, pela fôrça dos quais defende-se a verdade da tese que se sustenta. Esses argumentos são de duas espécies: o entimema que é, como já o sabemos, um silogismo truncado; e o exemplo, tipo oratório da indução. — Aristóteles distingue, em seguida, três ramos da Retórica correspondendo a três espécies diferentes de discursos. O ouvinte pode ser ou espectador ou juiz, e isto, seja das coisas passadas seja das coisas futuras. A eloquência do que é conselheiro nas coisas futuras liga-se ao gênero deliberativo que tem como objeto o útil ou o prejudicial. Os discursos relativos ao passado pertencem ao gênero judiciário e tratam do justo e do injusto. Aqueles que reprovam e os que louvam (gênero epidítico) se ocupam do belo e do honesto.
A sequência da obra de Aristóteles compreende quatro peças principais que não parecem, aliás, perfeitamente ordenadas. Inicialmente, um estudo especial dos três gêneros reconhecidos de discursos (I). Depois, um estudo das paixões e das disposições das diversas categorias de ouvintes (II, 1-18). O final do livro II trata dos lugares comuns na arte oratória. Finalmente, o livro III, que forma um conjunto à parte, trata do estilo e da composição. (Gardeil)