São Pedro

Do ponto de vista da figuração do Cristo e Evangelistas e daquela do Profeta, a primeira lembra diretamente aquela que considera São Pedro como a “pedra de fundação”, pois é evidente que São Pedro, como já dissemos, é também o Khalifah, isto é, o “vigário” ou o “substituto” de Cristo. Neste caso, contudo, considera-se apenas uma única “pedra de fundação”, ou seja, aquela que, dentre as quatro pedras de base dos ângulos, é colocada em primeiro lugar, sem levar mais longe as correspondências, enquanto que o símbolo islâmico do Profeta e Califas compreende as quatro pedras de base. A razão dessa diferença é que os quatro primeiros Kholafa têm de fato um papel especial do ponto de vista da “história sagrada”, enquanto que, no cristianismo, os primeiros sucessores de São Pedro não têm qualquer caráter que possa, de forma comparável, distingui-los de forma clara de todos aqueles que vieram depois. (Guénon)


A “substituição” ou “confusão” entre pedra angular (Cristo) e pedra fundamental (Pedro), também pode ser ajudada pela similaridade fonética existente entre o nome hebreu Kephas, que significa “pedra”, e a palavra grega Kephale, “cabeça”; mas não há entre essas duas palavras qualquer outra relação, e o fundamento de um edifício não pode evidentemente ser identificado à sua “cabeça”, ou seja, ao seu topo, o que resultaria em inverter todo o edifício. Poderíamos, além disso, nos perguntar se tal “inversão” não tem alguma correspondência simbólica com a crucificação de São Pedro de cabeça para baixo. (Guénon)