Uma das figuras mais impressionantes, que resume as ideias que acabamos de expor, é a swastika, ou suástica (figs. 5 e 6), que é essencialmente o “signo do Polo”. Acreditamos que, na Europa moderna, até agora, não se conhece seu verdadeiro significado. Tentou-se inutilmente explicar esse símbolo pelas teorias mais fantasistas; chegou-se mesmo a ver nele o esquema de um instrumento primitivo destinado à produção do fogo; na verdade, se houver em certas circunstâncias, alguma relação com o fogo, é por razões muito diferentes. Foi com frequência considerado como um signo “solar”, que, no entanto, só poderia, assim, ter-se tornado de forma acidental ou de um modo muito indireto; a esse respeito poderíamos repetir aqui o que dissemos a propósito da roda e do ponto no centro do círculo. Os que estiveram mais próximos da verdade foram aqueles que consideraram a suástica como símbolo do movimento, mas essa interpretação é ainda insuficiente, porque não se trata de um movimento qualquer, mas, sim, de um movimento de rotação que se realiza em torno de um centro ou de um eixo imóvel. E o ponto fixo é precisamente o elemento essencial ao qual se refere de forma direta o símbolo em questão. Todas as outras significações que a mesma figura comporta derivam-se desta: o Centro imprime movimento a todas as coisas e, como o movimento representa a vida, a suástica torna-se, por isso, um símbolo da vida, ou, mais exatamente, do papel vivificante do Princípio em relação à ordem cósmica.

Se compararmos a suástica com a figura da cruz inscrita na circunferência (v. Centro), poderemos nos dar conta de que são, no fundo, dois símbolos equivalentes, com a única diferença de que a rotação, ao invés de ser representada pelo traçado da circunferência, é apenas indicada na suástica por linhas acrescentadas às extremidades dos braços da cruz em ângulos retos; essas linhas são tangentes à circunferência, marcando a direção do movimento nos pontos correspondentes. Como a circunferência representa o Mundo, o fato de se encontrar subentendida indica muito claramente que a suástica não é uma representação do Mundo, mas sim da ação do Princípio em relação ao Mundo.

Se atribuirmos à suástica o movimento de rotação de uma esfera, como o da esfera celeste em tomo do seu eixo, é necessário supô-la traçada no plano equatorial; assim, o ponto central será a projeção do eixo sobre o plano que lhe é perpendicular. É secundaria a importância do sentido de rotação indicado pela figura, pois são encontradas as duas formas que reproduzimos acima, sem que seja preciso ver nisso a intenção de estabelecer entre elas uma oposição qualquer. Sabemos muito bem que, em certos países e em certas épocas, podem ter ocorrido cismas em que seus partidários deram voluntariamente à figura uma orientação contrária àquela que era habitual naquele meio do qual haviam se desligado, tendo isso como finalidade seu antagonismo por meio de uma manifestação exterior. Mas isso não afeta em nada a significação essencial do símbolo, que permanece a mesma em todos os casos.

A suástica, longe de ser exclusivamente oriental, como se acreditou algumas vezes, é na realidade um daqueles símbolos muito difundidos, sendo encontrado em quase toda parte, do Extremo Oriente ao Extremo Ocidente, pois existe até em certos povos indígenas da América do Norte. Na época atual, conservou-se em particular na Índia e na Ásia Central e Oriental, e é provável que apenas nessas regiões exista quem saiba ainda o que ele significa. Entretanto, mesmo na Europa, ele não desapareceu inteiramente. Na Lituânia e na Curlândia, os camponeses ainda traçam esse signo em suas casas, embora sem dúvida não mais conheçam o seu sentido e só vejam nele uma espécie de talismã protetor; mas, o que talvez seja mais curioso, é que eles lhe dão o nome sânscrito de swastika. Na Antiguidade, encontramos esse signo em especial entre os celtas e na Grécia pré-helênica; e, ainda, no Ocidente, como escreveu o Sr. Charbonneau-Lassay, foi antigamente um dos emblemas de Cristo, permanecendo em uso como tal até perto do final da Idade Média. Do mesmo modo que o ponto no centro do círculo e a roda, a suástica remonta incontestavelmente aos tempos pré-históricos, e, de nossa parte, vemos esse signo ainda, sem qualquer hesitação, como um dos vestígios da tradição primordial. (Guénon)


A reunião de quatro gamas ? colocados em ângulos retos, uns em relação aos outros, forma a suástica, “símbolo, tal como a letra G, da Estrela Polar, que é por sua vez o símbolo, e, para o maçom operativo, a sede efetiva do Sol central oculto no Universo, Iah, o que lembra evidentemente, muito de perto, o Tai-i da tradição extremo-oriental. É bom notar ainda que a parte recurvada dos braços da suástica é aqui considerada como representação da Ursa Maior, vista em quatro posições diferentes no curso de sua revolução em torno da Estrela Polar, à qual corresponde naturalmente o centro em que se unem os quatro gamas, e que as suas quatro posições estão relacionadas com os quatro pontos cardeais e as quatro estações. Sabe-se da importância da Ursa Maior em todas as tradições em que ocorre o simbolismo polar. (Guénon)