Tendo esboçado, o mais brevemente possível, a estrutura externa do método pelo qual o sufi se aproxima de seu objetivo, tentarei agora dar uma ideia de seu funcionamento interno. O presente capítulo trata da primeira parte da jornada tríplice — o Caminho, a Gnose e a Verdade — pela qual a busca da Realidade é frequentemente simbolizada.
O primeiro lugar em toda lista de “estágios” é ocupado pelo arrependimento (tawbat). Esse é o termo muçulmano para “conversão” e marca o início de uma nova vida. Nas biografias de sufis eminentes, geralmente são relatados os sonhos, as visões, as audições e outras experiências que os levaram a entrar no Caminho. Por mais triviais que possam parecer, esses registros têm uma base psicológica e, se autênticos, valeria a pena estudá-los em detalhes. O arrependimento é descrito como o despertar da alma do sono da negligência, de modo que o pecador se torna consciente de seus maus caminhos e sente contrição pela desobediência passada. Entretanto, ele não é verdadeiramente penitente, a menos que (1) abandone imediatamente o pecado ou pecados dos quais está consciente e (2) resolva firmemente que nunca mais voltará a cometer esses pecados no futuro. Se ele não conseguir cumprir seu voto, deverá recorrer novamente a Deus, cuja misericórdia é infinita. Um conhecido sufi se arrependeu setenta vezes e voltou a pecar setenta vezes antes de se arrepender de forma duradoura. O convertido também deve, tanto quanto estiver ao seu alcance, satisfazer todos aqueles que ele prejudicou. Muitos exemplos desse tipo de restituição podem ser encontrados na Lenda dos Santos Muçulmanos.
De acordo com a alta teoria mística, o arrependimento é puramente um ato de graça divina, vindo de Deus para o homem, não do homem para Deus. Alguém disse a Rabi’a:
“Cometi muitos pecados; se eu me penitenciar diante de Deus, será que Ele terá misericórdia de mim?” “Não”, respondeu ela, “mas se Ele se voltar para você, você se voltará para Ele”.