Nesse contexto, é extremamente interessante observar o papel que Boehme atribui ao nosso próprio mundo.
Os três princípios dão origem a três mundos distintos que, no entanto, estão interligados — o mundo do fogo, o mundo da luz e o mundo exterior: “E assim devemos entender um ser tríplice, ou três mundos um dentro do outro. O primeiro é o mundo do fogo, que deriva do centro da natureza… E o segundo é o mundo da luz que habita na liberdade, no sem-fundo, fora da natureza, mas que deriva do mundo do fogo… Ele habita no fogo, e o fogo não o captura. E esse é o mundo intermediário… O terceiro mundo é o externo, no qual habitamos de acordo com o corpo externo, com as obras e essências externas que foram criadas a partir das trevas, e também do mundo da luz…”
O mundo exterior, nosso mundo, aparece, portanto, como um mundo de verdadeira conciliação. Não é o mundo da queda, o mundo da culpa do homem, de sua decadência na matéria. Como Pierre Deghaye corretamente aponta, nosso mundo é um mundo de reparação: “O corpo de Lúcifer explode em chamas e é arruinado. Ora, esse corpo era o universo que precedeu o nosso. Foi no rastro dessa catástrofe, e em reparação, que o nosso mundo foi criado. Nosso mundo é o terceiro princípio…”.
A grandeza de nosso mundo está na incorporação dos três princípios.