Julius Evola: TRADIÇÃO HERMÉTICA [JETH]
Uma ideia central da Arte Régia é que o hermetista realiza determinadas operações, mediante as quais atualiza (põe em ato) e leva à perfeição uma «matéria» simbólica que a Natureza deixou imperfeita e em potência; e, sem a ajuda da Arte, o hermetista não conseguiria tal proeza. Esta ideia central refere-se a tudo aquilo que o homem comum acha ser de aqui de baixo, mas também se refere à dignidade, «desconhecida pelas raças anteriores», de que já falamos e cuja relação com o espírito específico dos «ciclos heroicos» já mencionamos também.
No respeitante ao primeiro ponto, podemos citar, entre outros, o De Pharmaco Catholico: «A natureza detém-se e suspende o trabalho no Ouro (no sentido de «Ouro vulgar», interpretável como aquele estado segundo o qual a força solar se encontra no homem comum)… Termo supremo de todos os metais (de todas as demais naturezas diferenciadas da «matriz»), acima e além do qual a própria natureza por si só não pode formar mais nenhum metal». Mas «os homens podem ajudar a natureza e obrigá-la a realizar um esforço superior ao realizado para as suas produções ordinárias», alcançando o fim, aquilo a que Geber chama «o limite extremo», a «coisa difícil», «a mais distante que o homem possa desejar». Os alquimistas estabelecem assim a distinção entre aquele Ouro, que é uma produção natural, e o outro Ouro que se produz mediante a Arte e que recebe o signo e a marca dos «Mestres do Poder». Por isso, Filaleuto diz alegoricamente que se o Mercúrio se encontra nos vendedores, o Sol ou Ouro é «uma consequência do nosso trabalho e da nossa operação», e quem não sabe isto, não «conhece ainda o objetivo da nossa obra secreta». Como sublinhamos no princípio, a Arte hermética não tem por finalidade descobrir o Ouro, mas fabricá-lo.