Poimandres Cosmogonia Fase I

PRIMEIRA FASE (I 4-6)

O narrador do tratado I — é o próprio Hermes (cf. XIII 15) — reporta que um dia, durante um êxtase, vê lhe aparecer um ser de um tamanho imenso que lhe diz: “Que queres conhecer?” Responde perguntando o nome desse desconhecido: este se nomeia, é Poimandres, o intelecto da Soberania Absoluta (o Primeiro Deus). Hermes então exclama: “Quero compreender os seres e suas naturezas, e conhecer Deus”. Em resposta, Poimandres promete instruí-lo.

Dito isto, o desconhecido muda de forma, torna-se uma entidade luminosa, “serena e jovial”. Logo, nessa Luz, se faz uma diferenciação. O alto fica a Luz, o baixo torna-se uma obscuridade assustadora, agitada, de movimentos caóticos. Depois, esta obscuridade muda-se em uma espécie de natureza úmida, “sacudida por uma maneira indizível”, a exalar um vapor como desenrascado do fogo, a produzir uma indescritível lamúria.

De repente, esta natureza úmida lança um grito de apelo. A esse grito, brota da Luz, logo, do mundo celeste, um Verbo Santo que vem cobrir a natureza úmida. Sob esta ação, aparentemente, sai lá de baixo da natureza úmida, de início um fogo puro que se eleva; depois o ar que se dirige ao alto até a região atingida pelo fogo, enquanto que a terra e a água, sempre agitadas, por movimentos sob a ação do sopro do Verbo, permanecem em baixo confundidas.

Resumamos esta primeira fase (I, 4-5).

– Existe, então, de início a Luz: primado original da luz.

– Em seguida, sem que se manifeste a ação de uma causa eficiente, uma primeira distinção e oposição, que fica também uma oposição fundamental no hermetismo: aquela da Luz e das Trevas. A Luz, ela, não muda: é o mundo tenebroso lá de baixo que vai se precisar por uma divisão interna.

– Transforma-se de início em natureza úmida. Sob a ação do Verbo procedente da Luz, esta natureza úmida faz sair de ela-mesma o fogo e o ar, ao mesmo tempo em que fica um magma de água e de terra. Tem-se, doravante, os quatro elementos, todos procedentes da obscuridade, por conseguinte, todos maus por princípio, e tão maus que eram ficaram mais próximos da matéria obscura inicial.

Poimandres explica em seguida esta primeira visão (I, 6): a Luz, é o próprio deus “Noûs”, “aquele que existe antes da natureza úmida saída da obscuridade”. O Verbo procedente da Luz, ou seja, do “Noûs”, é o filho de Deus.

Hermetica