Schipper (KSCT) – Calendário Taoista

O ciclo de dias e estações, séculos e eras, o ritmo cósmico, é obra do Tao; daí a natureza sagrada do calendário.

Mais do que um simples meio de contar os dias, ele é uma revelação divina, cuja divulgação era, até recentemente, prerrogativa do Filho do Céu, o Imperador da China. Elaborado em segredo, o novo calendário era promulgado a cada ano novo pelos astrólogos da corte. Cópias impressas eram enviadas a todos os centros administrativos. Em nível local, esse calendário imperial foi adotado pelo almanaque rural conhecido como t’ong-chou, o Livro Universal.

Ainda hoje, o almanaque tradicional continua sendo o livro mais usado na China. Pendurado em um prego ao lado do altar da família, ele ocupa um lugar de destaque em todas as casas. Apesar da abolição oficial do calendário chinês em 1912 e sua substituição pela bússola gregoriana, os agricultores continuam a usar o almanaque tradicional para regular seu trabalho no campo.

O calendário chinês baseia-se tanto no ciclo do sol (yang) quanto no ciclo da lua (yin). O ciclo do sol baseia-se nos solstícios e equinócios e divide o ano em vinte e quatro períodos conhecidos como “nós do ciclo de energia” (kie-k’i). Cada período tem um nome que corresponde à mudança no clima: “Grande Calor”, “Pequeno Frio”, “Despertar dos Insetos”, e qualquer pessoa que tenha vivido nas antigas regiões da civilização chinesa, como a Grande Planície, por exemplo, sabe o quanto esses nomes correspondem ao clima em um determinado momento.

O calendário lunar divide o ano em doze meses lunares, o primeiro dos quais é a lua nova, e o décimo quinto coincide com a lua cheia. Esses meses lunares compreendem vinte e nove ou trinta dias. Para fazer com que o ano lunar coincida com o ano solar, meses complementares são inseridos em intervalos irregulares.

O calendário comum também leva em conta o movimento das estrelas, dos cinco planetas e dos vinte e oito palácios (sieou). Algumas conjunções estelares são consideradas auspiciosas, outras inauspiciosas. Um sistema altamente desenvolvido de correspondências leva a uma série de proibições: em um dia, não se deve cortar o cabelo ou fazer um negócio; em outro, não se deve trabalhar no campo e não se deve mudar os móveis de lugar na casa… Essas proibições são particularmente importantes para os grandes momentos da vida: casamentos, funerais, viagens.

Por fim, há o sistema de contagem de dias — e anos — em ciclos de sessenta. A numeração é feita pela combinação de duas séries de signos, uma de dez unidades e outra de doze, chamadas de Troncos Celestes e Ramos Terrestres, respectivamente. As duas séries são emparelhadas, e cada signo da série de dez troncos é, portanto, combinado com seis signos (sempre os mesmos) da série de doze ramos. Essa combinação das duas séries, formando ciclos de sessenta dias ou sessenta anos, permite uma série de jogos matemáticos. E, como no caso dos planetas e dos palácios, aqui também os elementos do cálculo estão ligados a um grande número de outras categorias relacionadas ao espaço ou à existência humana.

Todos os elementos que compõem o calendário o tornam extremamente elaborado e complexo. Na China tradicional, não há dois dias iguais. Os “nós de energia” e todos os outros aspectos dos cálculos, com sua interação de correspondências, dão ao tempo uma consistência e uma realidade muito mais sensíveis do que em nossa época. Ele envolve o indivíduo muito de perto, influenciando suas decisões e ações em todos os momentos. Esse ritmo do tempo é ainda mais evidente no ciclo dos festivais.

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