Frithjof Schuon — O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
^Assim como a virtualidade do mal se encontrava na alma do primeiro homem, assim também a corruptibilidade material existia virtualmente no seu corpo paradisíaco e incorruptível. Esse corpo não podia se corromper em seu estado normal, mas a atuação do mal na alma tirou os quatro elementos sensíveis de sua homogeneidade etérea, que era a do corpo edênico; é o que ensina a Cabala. Tendo a alma abandonado em seu movimento deífugo a contemplação do Uno, consequentemente, os quatro elementos corporais deixaram por sua vez sua unidade primordial, a quinta essentia ou o Éter. Dissociaram-se e opuseram-se um ao outro, para acabar reunindo-se num plano inferior e compor o corpo corruptível do homem que perdeu a graça divina, conservando desde então seu corpo incorruptível como uma virtualidade pura. Portanto, o corpo edênico não desapareceu por completo, mas é como um “núcleo de imortalidade” totalmente oculto sob sua exterioridade corruptível. Nosso corpo atual é corruptível por ser composto pelos quatro elementos e porque toda coisa composta, por definição, está destinada à decomposição.^
^Lembremos, de início, que na origem do culto das relíquias existem os corpos dos santos, depois partes ou parcelas desses corpos, em seguida objetos que estiveram em contato com eles e, mais tarde, objetos que estiveram em contato com esses primeiros objetos. É evidente que esta última categoria não comporta nenhum limite, pois pode-se colocar os tecidos sobre as relíquias “de força maior” indefinidamente, tal como a Túnica Santa conservada em Treves. Em todo caso, é impossível esquecer que o culto das relíquias, longe de ser apenas um abuso relativamente tardio, como imaginava a maioria dos protestantes, remonta à época das catacumbas e representa um elemento essencial na economia devocional e carismática do Cristianismo.^