Schuon (FSDH) – O que há no seio da relatividade ?

O que há no seio da relatividade ?

No seio da relatividade, há a respeito do Absoluto uma relação de radiação, de prolongamento ou de continuidade, e uma relação de reflexo, de repetição ou de descontinuidade: afirmar que as hipóstases não decorrem de maneira alguma da primeira relação, implicaria em negar seu caráter divino — figurado pela continuidade geométrica —, pois então a Essência somente seria divina, só o ponto sendo central; afirmar ao contrário que as hipóstases, portanto relativas1, não decorrem de maneira alguma da segunda relação, implicaria em negar sua separação do puro Absoluto, pois então seriam a Essência e esta seria diferenciada — logo afetada de relatividade —, o que é uma contradição nos termos. Há igualmente, sempre na relatividade, a relação de diferença e aquela de identidade: uma hipóstase é distinta da outra sob pena de ser a outra e não ela mesma, mas ela é idêntica à outra sob a relação da substância principial, logo do caráter divino. Esta dimensão de distinção e de indistinção, a qual é por assim dizer «horizontal», não causa dificuldade; mas assim não se passa com a dimensão «vertical» de continuidade e de descontinuidade, pois aqui entra em jogo uma questão de «sublimidade», à qual o sentimento religioso é particularmente sensível, sem falar da preocupação de prevenir os riscos de heresia: quer dizer que é preciso evitar a todo preço, por um lado que se ponha um ou vários deuses ao lado de Deus, e por outro lado que se introduza em Deus uma cisão, o que implicaria mais ou menos no mesmo; a Natureza divina devendo permanecer simples, como a Realidade divina deve permanecer una, não obstante a complexidade inegável do Mistério divino.


  1. No sentido — paradoxal mas real — do «relativamente absoluto» a hipóstase é relativa à Essência, mas é principial — logo praticamente absoluta — em relação da Manifestação cósmica.  

Frithjof Schuon