Schuon (UTR) – Cristianismo e Islamismo

Vimos que, de todos os ramos que surgiram mais ou menos diretamente da Tradição primordial, o Cristianismo e o Islã representam a herança espiritual dessa tradição a partir de diferentes pontos de vista; e isso levanta, acima de tudo, a questão do que é um ponto de vista em si. Nada é mais simples do que perceber isso no próprio nível da visão física, onde o ponto de vista determina precisamente uma perspectiva que é sempre perfeitamente coordenada e necessária, e onde as coisas mudam de aparência de acordo com a localização de quem as percebe, embora os elementos da visão permaneçam sempre os mesmos, a saber: o olho, a luz, as cores, as formas, as proporções e as situações no espaço. É o ponto de partida da visão que pode mudar, não a visão em si; se todos aceitam que esse é o caso do mundo físico, que é apenas um reflexo das realidades espirituais, como se pode negar que as mesmas relações existem, ou melhor, pré-existem entre elas? O olho é então o coração, o órgão da Revelação; o sol é o Princípio divino, o dispensador da luz; a luz é o Intelecto; os objetos são as Realidades ou Essências divinas. Mas, embora em geral não haja nada que impeça um ser vivo de mudar seu ponto de vista físico, o mesmo não pode ser dito do ponto de vista espiritual, que sempre transcende o indivíduo e com relação ao qual a vontade deste último só pode permanecer determinada e passiva.