Schuon (EPV) – Quietismo e Sexualidade

Uma das formas da dimensão esotérica é o que se convencionou denominar quietismo, que desejamos apresentar de um modo sucinto. Costuma-se estabelecer uma associação de ideias entre o quietismo e a sexualidade espiritualizada, acreditando-se na possibilidade de reduzir essas duas posições a tentações de “facilidade”; como se o fácil fosse sinônimo de falso e o difícil sinônimo de verdadeiro, e como se o verdadeiro quietismo e a sexualidade espiritualizada comportassem aspectos, senão de penitência, pelo menos de exigência e de gravidade. Na verdade, o quietismo baseia-se nas ideias de substância existencial e de imanência divina e na experiência da Presença de Deus: ele consiste em “repousar em seu próprio ser” ou, em outras palavras, em repousar na Paz divina. Aliás, esta atitude exige essencialmente, primeiro, uma compreensão satisfatória do mistério e, em seguida, uma atitude ativa e produtiva, isto é, a oração perpétua ou a “prece do coração”, a qual implica uma ascese profunda, caso não se restrinja a uma improvisação completamente profana e passageira, e mais prejudicial do que útil. Seja como for, o fato de um certo quietismo sentimental ter ignorado os aspectos rigorosos e ativos da santa quietude não autoriza que se anatematize o quietismo em si, assim como o gnosticismo sectário e intrinsecamente herético não autoriza a condenar a verdadeira gnose; ou, assim como o desregramento de costumes, não autoriza a caluniar o tantrismo.

Fora a censura de “facilidade” há a de “imoralidade”. A espiritualidade que valoriza o elemento sexual surge como comprometida antecipadamente por sua aparente busca de “prazer”, como se o prazer tirasse o valor de um símbolo e como se a experiência sensível não fosse supercompensada pela experiência contemplativa concomitante e interiorizante; e, enfim, como se a falta de prazer fosse um critério de valor espiritual. Censura-se igualmente o quietismo por ser imortal, visto que admite um estado em que o homem se encontra além do pecado, ideia que diz respeito a uma santidade — evidentemente incompreendida — na qual os atos do homem são de ouro porque sua substância é de ouro, e tudo o que ele toca transforma-se em ouro; o que exclui, com certeza, os atos intrinsecamente maus, seja em relação a Deus, seja em relação ao próximo. De fato, o quietismo frequentemente tem sido ascético mas, por sua natureza, admite sem reticências a integração espiritual da sexualidade, visto que está, por assim dizer, existencialmente relacionado com a beleza e, portanto, com o amor ou, mais precisamente, com o aspecto contemplativo e tranquilizador do amor. Mas esse amor é também uma morte (amor = mors), sem o que não seria espiritual; “sou negra, mas bela”.

Frithjof Schuon