Schuon (FSDH) – Transcendência não é contrassenso

Transcendência não é contrassenso — tópicos


Dificuldades conceituais e dialéticas no mistério dos graus de realidade

Quem diz conhecimento humano, diz conhecimento do Absoluto; e este evoca o mistério dos graus de realidade, logo aquele da relatividade, não apenas do mundo, mas também — e a priori — do aspecto pessoal da Divindade. É aqui que intervêm certas dificuldades sejam conceituais sejam dialéticas: por um lado, há a necessidade metafísica de dar-se conta deste mistério, e por outro, há a impossibilidade teológica de dar-se conta sem ao mesmo tempo, se não o negar explicitamente pelo menos o pôr entre parênteses; falando muito esquematicamente, é como se, obrigado a constatar a existência de círculos concêntricos, apressa-se a acrescentar que estes são raios, a fim de salvaguardar a homogeneidade do sistema e em função de uma prejulgamento de continuidade linear ou de unidade, apesar de tudo1. Quer dizer que a especulação dogmática ignora esta mobilidade interior que, em outras disciplinas, permite hierarquizar perspectivas diferentes sem sacrificar nenhuma, e sem reduzir alguma abusivamente à outra.


  1. Esta dificuldade evoca, além do mais, o mal entendido clássico entre Monoteísmo semita e Politeísmo ariano ou outro; com efeito, não há politeísmo propriamente dito, salvo talvez subjetivamente — de facto e não de jure — no caso de uma degenerescência popular que qualificaríamos de pagã.