Shah-Kazemi (RSKPT) – identidade imanente e transcendente

Enquanto a doutrina de Shankara foi vista como fluindo do texto “Isso é o Absoluto; Isso és”, a doutrina de transcendência de Ibn Arabi pode ser considerada como um comentário esotérico elaborado sobre o primeiro artigo da fé islâmica: “Não há divindade exceto a (única) Divindade”. Enquanto na primeira perspectiva é afirmada a natureza totalmente inclusiva do Si (Self) imanente, na segunda, é afirmada a natureza totalmente exclusiva da Divindade transcendente; mas essa segunda afirmação também contém uma negação implícita da alteridade, sendo centrada na unidade absoluta da Divindade e, portanto, retoma a perspectiva da imanência. Uma das principais questões no exame da abordagem de Ibn Arabi a essa identidade entre o imanente e o transcendente será, então, como esse “Doctor Maximus” (al-Shaykh al-Akbar) do misticismo islâmico expressa as implicações mais profundas da unidade do ser no contexto de uma fé teísta e dogmática que mantém enfaticamente uma distinção rigorosa entre o Criador e a criatura. Como será visto, suas doutrinas não são apresentadas de uma maneira que sugira um esforço individual de compreensão ou uma tentativa de compromisso entre as exigências dogmáticas da religião exotérica e as realidades internas reveladas pela experiência mística; ao contrário, a inspiração divina é explicitamente reivindicada por Ibn Arabi até mesmo para as próprias modalidades de expressão conceitual dessa experiência, uma experiência — ou melhor, uma realização — que, no entanto, permanece inexprimível no que diz respeito à sua essência mais íntima.

Ibn Arabi (1165-1240), Reza Shah-Kazemi