Silburn (AGHinos:) – advaya e advaita

Disso decorre outra diferença não menos importante, que diz respeito ao advaya. Em Śañkara, um defensor da advaita em sua forma mais rigorosa, o Um-sem-segundo, a única indiferenciação pura e real (nirvikalpa) exclui qualquer tendência à dualidade, enquanto o advaya do Trika, apresentando-se como o Todo único do qual nada é excluído, engloba advaita e dvaita; e se o diferenciado (vikalpa) se desenvolve, ele está sempre dentro do indiferenciado (nirvikalpa). Esse é o tema subjacente a esses hinos, pois constitui a experiência mais elevada que Abhinavagupta alcançou; dá perfeita satisfação à mente e devolve à expressão jivānmukti seu profundo significado de “liberdade vivida em plena multiplicidade”. Encontramos isso na Bodhapancadaśikā, que, desde as primeiras palavras, celebra o Todo: Este, cuja essência é a Luz imutável de toda a luz e também da escuridão, e em quem a escuridão e a luz residem, é o próprio Deus soberano, a natureza inata de todos os seres (1). Essa essência contém o vínculo e a liberação (14), bem como as três energias: vontade, conhecimento e atividade, das quais é a fonte indiferenciada (15). Do ponto de vista da bem-aventurança, o Bhairavastava expõe uma ideia semelhante no verso 6. A Anuttarāşţikā ensina que, mesmo diferenciada, a ilusão não é outra senão a Consciência-sem-segundo (3); e, mais adiante, insiste: tudo aqui embaixo, eterno e transitório, o que é poluído pela ilusão e o que é puro no Si aparece glorioso no espelho da Consciência assim que se reconhece o Si (8). A Paramārthadvādaśikā especifica que a Consciência contém tanto o consciente quanto o inconsciente, sendo Śiva o firmamento supremo, receptáculo da alternativa: dualismo e não dualismo, e vazio luminoso que ilumina as distinções de existência e não existência. Do ponto de vista da adoração, o Mahopadeśavimśatika não diz nada diferente: “Em quem Tu és e eu sou, em quem só Tu és e eu não sou, e em quem não há nem Tu nem eu, a Ele eu presto homenagem” (2). Do ponto de vista da atividade, também encontramos: “Revelas-te como quiser, como um ator que assume os papéis que lhe são próprios: vigília, sonho, sono profundo, mas na realidade não desempenhas nenhum papel” (10).

Lilian Silburn (1908-1993)