Essa ignorância, deve-se observar, não é pessoal: ela é metafísica porque faz parte da condição humana. Ela é cósmica, pois é pelo fato de que, ao manifestar o universo, ele próprio oculta sua luz pura e perfeita, sua Consciência imaculada, que o Senhor se torna invisível para os ignorantes. Somente o homem sábio, o místico iluminado pela graça, encontra o rastro dessa luz e finalmente a contempla, compreendendo a verdadeira natureza das aparências sensíveis, que se poderia dizer que nada mais são do que ignorância. Em suma, o mundo aparece como o resultado de um tipo de “engano cósmico” que só pode ser apagado pelo movimento inverso de retorno à fonte, de “re-conhecimento” (pratyabhijñā) da Realidade. É isso que ensinam os mestres da escola caxemiriana de Pratyabhijñā (em uma certa continuidade com a antiga concepção védica de māyā, do poder mágico da ilusão), em particular Utpaladeva, de quem Abhinavagupta foi discípulo (SILBURN, 2000, p. 38).