Vale a pena lembrar que a assimilação do Sol ao coração, na medida em que ambos têm igual significação “central”, é comum a todas as doutrinas tradicionais, no Ocidente e no Oriente. Proclo, por exemplo, assim fala ao se dirigir ao Sol: “Ocupando acima do éter o trono do meio, e tendo por imagem um círculo deslumbrante que é o Coração do Mundo, tu preenches a tudo com uma providência pronta a despertar a inteligência.” Citamos de preferência esse texto, ao invés de muitos outros, em virtude da menção formal que se faz à inteligência. E, tal como já explicamos em muitas oportunidades, o coração é considerado também, antes de mais nada, em todas as tradições, como a sede da inteligência.4 Aliás, segundo Macróbio, “o nome Inteligência do Mundo que se dá ao Sol corresponde ao de Coração do Céu; fonte da luz etérea, o Sol é para esse fluido o que o coração é para o ser animado. Plutarco, ainda, escreveu que o Sol, “tendo a força de um coração, espalha e emite de si o calor e a luz, como se fosse o sangue e o sopro. Encontramos nessa última passagem, tanto para o coração como para o Sol, a indicação do calor e da luz, que correspondem às duas espécies de raios que considerávamos. E se o “sopro” está aí relacionado à luz, é porque na verdade se constitui no símbolo do espírito, que é em essência a mesma coisa que a inteligência. Quanto ao sangue, é evidentemente o veículo do “calor vivificante”, o que se refere mais em particular ao papel “vital” do princípio que é o centro do ser. [Guénon]