Spira – Luto

RUPERT SPIRA — A DOR DO LUTO

Em resposta à questão de uma senhora que perdeu uma filha de 16 anos de idade, há alguns anos e que ainda sente por vezes um jorrar de sentimento acompanhado de lágrimas e de dor

A questão não é sobre escolha mas sobre este jorro de sentimento. E estais certa, há realmente um jorro de sentimento acompanhado de lágrimas. E isto como dizes é muito próximo do que sentes sobre a natureza da consciência, porque o que vem embora expresso em tristeza e lágrimas é realmente o amor por tua filha. Assim a memória de tua filha te conduz para um lugar mais profundo em ti mesmo. Em outras palavras a memória de tua filha te conduz para tua natureza essencial. Ela te conduz para a experiência do amor, ou seja, tua natureza verdadeira.

Eu seria muito respeitoso à memória de tua filha e os sentimentos que ela evoca. Esta deve ser tua prática espiritual: permitir esta memória, te deixar levar por esta memória de volta ao amor que compartilhavas com tua filha. Permitir que a memória te conduza para teu eu mais essencial. Em outras palavras não sentir que este luto residual é algo que deva ser tolerado, ou apenas vivido com ele para sempre; é muito mais que isso. É como um apelo te chamando para voltar. É o presente de tua filha para ti. Não apenas tolere isso. Não pratique: “posso viver com isso para sempre?”. Não. É algo a ser valorizado. Certamente que está colorido de tristeza e de luto, mas o núcleo é a experiência do amor.

Concluindo em resposta à mesma senhora, diz:

Em teu coração há este luto que se levanta. Não evite. Vá aí. Vá aonde ele está tentando levá-la. Ou melhor, vá aonde está te convidando. Porque é onde encontrarás tua filha. O coração de ti mesmo. O lugar do amor.