arco-íris

O arco-íris é, em geral, considerado como símbolo da união do Céu e da Terra. Entre o meio pelo qual se estabelece a comunicação da Terra com o Céu e a linha de sua união, há uma conexão evidente, mas que não acarreta necessariamente uma assimilação ou identificação. Podemos acrescentar, desde já, que essa significação do arco-íris, encontrada sob uma ou outra forma na maior parte das tradições, resulta diretamente de sua estreita relação com a chuva, pois esta representa a descida de influências celestes ao mundo terrestre.

O exemplo mais conhecido no Ocidente dessa significação tradicional do arco-íris é naturalmente o texto bíblico em que está expressa de forma clara; é dito, em especial: “Porei meu arco na nuvem e ele se tornará um sinal da aliança entre mim e a terra”; mas podemos notar que esse “sinal da aliança” não é de modo algum apresentado como um meio que permita a passagem de um mundo ao outro, passagem esta aliás que o texto citado não faz a menor referência. Em outros casos, a mesma significação encontra-se expressa sob formas muito diferentes: entre os gregos, por exemplo, o arco-íris identifica-se ao xale de Íris, ou talvez à própria Íris numa época em que, nas figurações simbólicas, o “antropomorfismo” não havia sido ainda levado por eles assim tão longe como aconteceu mais tarde; aqui, tal significação envolve o fato de que Íris era a “mensageira dos Deuses” e desempenhava por conseguinte um papel de intermediário entre o céu e a terra. E é evidente que uma representação como essa está muito afastada, sob todos os pontos de vista, do simbolismo da ponte. No fundo, o arco-íris parece ter sido sobretudo, de um modo geral, relacionado às correntes cósmicas pelas quais se opera a troca de influências entre o Céu e a Terra, muito mais que ao eixo pelo qual se efetua a comunicação direta entre os diferentes estados, o que aliás concorda melhor com sua forma curva, pois, embora já tenhamos observado antes que a curva não está necessariamente em contradição com a ideia de “verticalidade”, não é menos verdade que esta ideia não pode ser nesse caso tão bem sugerida pelas aparências imediatas como acontece, ao contrário, com todos os símbolos propriamente axiais.

É necessário reconhecer que o simbolismo do arco-íris é na verdade muito complexo e apresenta múltiplos aspectos. Mas entre eles, um dos mais importantes talvez, ainda que de início possa parecer muito surpreendente, mas que em todo caso se refere de maneira mais clara ao que acabamos de indicar, é aquele que o assimila a uma serpente, podendo ser encontrado nas mais diferentes tradições. Já se observou que os caracteres chineses designativos do arco-íris têm o radical “serpente”, embora essa assimilação não seja expressada formalmente na tradição extremo-oriental, fato este que nos permite admiti-lo como lembrança de alguma coisa que vem de uma época muito remota. Parece que esse simbolismo não foi inteiramente desconhecido entre os próprios gregos, ao menos no período arcaico, pois, segundo Homero, o arco-íris estava representado na couraça de Agamenon por três serpentes azuladas, “imitação do arco de Íris, e signo memorável para os humanos, que Zeus imprimiu nas nuvens.” (Guénon)

René Guénon