Se não se consegue ver o outro lado do simbolismo da caverna, tal fato se deve, com muita probabilidade, à influência exercida pelas teorias de certos “historiadores das religiões” que admitem, com efeito, que a caverna deve sempre ser referida aos cultos “ctonianos”, sem dúvida pela razão um tanto “simplista” de se situar no interior da terra. Porém, isso está muito longe da verdade. No entanto, não se pode deixar de admitir que a caverna iniciática é apresentada antes de tudo como uma imagem do mundo. Mas sua hipótese ainda assim impede de extrair a conclusão que se impõe, ou seja, que, sendo assim, a caverna deve formar um todo completo e conter em si a representação do Céu e da Terra. Porém, mesmo quando acontece que o Céu seja mencionado de forma expressa em algum texto ou figurado em algum monumento como correspondente à abóbada da caverna, as explicações propostas a esse respeito tornam-se de tal modo confusas e pouco satisfatórias, que não é possível segui-las. A verdade é que, longe de ser um lugar tenebroso, a caverna iniciática é iluminada interiormente, enquanto que fora dela, ao contrário, reina a obscuridade. Assim, o mundo profano é naturalmente assimilado às “trevas exteriores”, e o “segundo nascimento” é, ao mesmo tempo, uma “iluminação”. Agora, se nos perguntarem por que a caverna é encarada desse modo do ponto de vista iniciático, responderemos que a solução dessa questão encontra-se, de um lado, no fato de que o símbolo da caverna é complementar ao da montanha, e que, de outro, o simbolismo da caverna tem estreita ligação com o do coração. Pretendemos tratar separadamente esses dois pontos essenciais, mas não é difícil compreender, após tudo o que já tivemos ocasião de expor em outras oportunidades, que isso tem relação direta com a própria representação dos centros espirituais. (Guénon)