Chrétien de Troyes

CHRÉTIEN DE TROYES (c. 1135-83) Escrevendo para um público culto nas cortes aristocráticas da França setentrional entre 1165 e 1180 (Maria, condessa da Champagne, e Filipe, conde de Flandres, estavam entre seus patrocinadores), Chrétien destaca-se como a mais influente e inovadora figura da literatura vernácula do século XII. Fundador do gênero romanesco, suas obras foram traduzidas e imitadas por toda a Europa. Inspirou-se num corpus de lendas arturianas, essencialmente célticas, e na cultura e sociedade cortesã de seu tempo; suas obras mais conhecidas incluem cinco longos poemas narrativos: Erec e Enide, Cligès, Yvain ou o Cavaleiro do leão, Lancelote ou o Cavaleiro da carreta e Percival ou o Conto do Graal.

Sua principal preocupação parece ter sido as atitudes, hábitos e crenças que caracterizavam a cavalaria de seu tempo, e suas implicações morais. A ação de seus romances concentra-se na busca de aventuras por parte do cavaleiro andante, que diante de vários problemas e crises, precipitados usualmente pelo amor, cresce em estatura quando adquire uma identidade e novos valores, o que o habilita a realizar melhor seu potencial individual e a cumprir plenamente seu papel na sociedade. Com seu último e inacabado romance, Percival, é introduzida uma dimensão religiosa onde antes estava presente o amor por uma mulher como a influência mais civilizadora e enobrecedora sobre o homem. Alguns críticos contentam-se em interpretar as obras de Chrétien como ilustrativas da reconciliação da necessidade dual do homem entre o amor dentro do casamento e a aventura. Outros preferem ler nas entrelinhas, vendo-o como um provocante, até subversivo, formulador de questões difíceis.

É possível que os leitores modernos de Chrétien se impressionem com sua constante variação de tom e, em particular, sua justaposição de ostensivo realismo e óbvia fantasia. Além de sua versátil manipulação do octossílabo, sua exploração teatral do diálogo e da retórica, e de sua habilidade na estruturação da narrativa, a erudição discreta de Chrétien, seu talento para a observação e a análise psicológica (especialmente do amor), seu humor e penetrante uso de ironia combinam-se para dar um sentido de desenvolta elegância e refinamento à sua obra. (DIM)