Essa percepção direta da verdade, essa intuição intelectual e supra-racional, da qual os modernos parecem ter perdido até mesmo a mais simples noção, é na verdade o “conhecimento do coração”, segundo uma expressão que se encontra com frequência nas doutrinas orientais. Esse conhecimento, além disso, é em si mesmo algo incomunicável; é necessário tê-lo “realizado”, ao menos numa certa medida, para saber o que é na verdade. E tudo o que se possa dizer dele, dá apenas uma ideia mais ou menos aproximada, sempre inadequada. Sobretudo, seria um erro acreditar que se possa compreender efetivamente de que gênero de conhecimento se trata, limitando-se a considerá-lo “filosoficamente”, isto é, de fora, pois não se deve jamais esquecer que a filosofia é só um mero conhecimento humano ou racional, como todo “saber profano”. Ao contrário, é sobre o conhecimento supra-racional que se fundamenta essencialmente a “ciência sagrada”, no sentido em que empregamos essa expressão em nossos escritos* Tudo o que dissemos do uso do simbolismo e do ensinamento nele contido, relaciona-se aos meios que as doutrinas tradicionais colocam à disposição do homem para permitir-lhe alcançar esse conhecimento por excelência, do qual todo e qualquer outro conhecimento, na medida em que possa ter alguma realidade, participa de uma forma mais ou menos afastada e reflete de maneira mais ou menos direta do mesmo modo que a luz da Lua nada mais é que um pálido reflexo da do Sol. O “conhecimento do coração” é a percepção direta da luz inteligível, daquela Luz do Verbo de que fala São João no início do seu Evangelho, Luz irradiante do “Sol espiritual”, que é o verdadeiro “Coração do Mundo”. (Guénon)