O fato de que determinado fenômeno que nos preocupa careça de beleza não nos obriga a carecer dela nós mesmos; discernimento não é mimetismo. Sem dúvida, devemos tomar nota das dissonâncias deste mundo, mas devemos fazê-lo tendo em conta suas proporções sempre relativas e sem perder contato com a serenidade do Ser necessário. Isto, com toda evidência, não tem nada que ver com um falso desapego que descansa orgulhosa e hipocritamente em erros e injustiças, esquecendo que não há direito superior ao da verdade.
A função essencial da inteligência humana é o discernimento entre o Real e o ilusório, ou entre o Permanente e o impermanente; e a função essencial da vontade é o apego ao Permanente ou ao Real. Este discernimento e este apego são a quintessência de toda espiritualidade; e levados a seu grau mais elevado, ou reduzidos a sua substância mais pura, constituem, em todo grande patrimônio espiritual da humanidade, a universalidade subjacente, ou o que poderíamos denominar a religio perennis; é a esta à qual aderem os sábios, enquanto se fundam necessariamente em elementos de instituição divina.
(Schuon PP)