Mas, chegando ao que há de mais essencial, falaremos do enfraquecimento do ensino doutrinário, quase por inteiro substituído por vagas considerações morais e sentimentais que, talvez,agradem muito a alguns, mas, ao mesmo tempo, repelem e afastam aqueles que têm aspirações de ordem intelectual, e que, apesar de tudo, ainda existem em nossa época. A prova disso é que um certo número de pessoas, muito maior do que se poderia pensar, deplora tal ausência de doutrina; e vemos como sinal favorável, apesar das aparências, o fato de que, de diversos lados, as pessoas parecem dar-se conta disso muito mais nos dias atuais do que há alguns anos. Não há razão para sustentar-se, como temos ouvido frequentemente, que ninguém compreenderia uma exposição de doutrina pura; em primeiro lugar, por que motivo querer sempre se manter em nível inferior, a pretexto de que é o da maioria, como se fosse necessário considerar antes a quantidade que a qualidade? Não será isso uma consequência do espírito democrático, que é dos aspectos característicos da mentalidade moderna? Por outro lado, deve-se realmente acreditar que tantas pessoas seriam incapazes de compreender, caso tivessem sido habituadas a um ensinamento doutrinário? Não se deveria pensar também que mesmo aqueles que não compreendessem tudo, poderiam, apesar disso, obter um certo benefício, talvez muito maior do que se possa supor? (Guénon)