esoterismo cristão

A existência do esoterismo cristão na Idade Média é uma coisa absolutamente certa; provas de todo gênero existem em abundância, e as contestações provenientes da incompreensão moderna, seja por parte dos partidários ou dos adversários do cristianismo, nada podem fazer contra esse fato. Já tivemos inúmeras ocasiões de falar sobre essa questão para que seja necessário insistir aqui sobre ela. Porém, mesmo entre aqueles que admitem a existência desse esoterismo, são muitos os que têm uma concepção mais ou menos inexata.

Em primeiro lugar, é bom que se note que dizemos “esoterismo cristão” e não “cristianismo esotérico”. Não se trata de modo algum, com efeito, de uma forma especial de cristianismo, mas sim do lado “interior” da tradição cristã. É fácil compreender que existe aí algo mais do que uma simples nuance de linguagem. Por outro lado, quando há motivos para distinguir duas faces numa forma tradicional, uma exotérica e outra esotérica, deve ser bem entendido que não se referem ao mesmo domínio, embora não possa haver entre elas conflito ou oposição de qualquer espécie. Em particular, quando o exoterismo se reveste de caráter especificamente religioso, como é aqui o caso, o esoterismo correspondente, sem deixar de ter aí sua base e seu suporte, nada tem em si a ver com o domínio religioso e situa-se numa ordem totalmente diferente. Disso resulta, de imediato, que esse esoterismo não pode ser, em caso algum, representado por quaisquer “Igrejas” ou “seitas” que, por definição, são sempre religiosas e, portanto, exotéricas. (Guénon)

René Guénon