Os dois grandes obstáculos da vida terrestre são a exterioridade e a matéria; ou, mais precisamente, a exterioridade desproporcionada e a matéria corruptível. A exterioridade é a falta de equilíbrio entre nossa tendência em direção às coisas exteriores e nossa tendência em direção ao interior; e a matéria é a substância inferior – inferior com respeito a nossa natureza espiritual – na qual estamos encerrados na terra (no céu nossa matéria será transubstanciada).
O que se impõe não é rechaçar o exterior sem admitir mais que o interior, senão realizar uma relação em direção ao interior – uma interioridade espiritual, precisamente – que prive à exterioridade de sua tirania ao mesmo tempo dispersante e compressiva e que, pelo contrário, nos permita “ver a Deus em todas as partes”; quer dizer, perceber nas coisas os símbolos e os arquétipos, integrar, em suma, o exterior no interior e fazer dele um suporte de interioridade. A beleza, percebida por uma alma espiritualmente interiorizada, é interiorizante.
Quanto à matéria, o que se impõe não é negá-la – se isto fora possível -, senão subtrair-se a sua tirania sedutora; distinguir nela o que é arquetípico e puro do que é acidental e impuro; tratá-la com nobreza e sobriedade. (Schuon PP)