guardiões

Entre as atribuições das ordens de cavalaria, e mais em particular dos Templários, umas das mais conhecidas, mas nem por isso em geral bem compreendidas, é a de “guardiões da Terra Santa”. Seguramente, se nos prendermos ao sentido mais exterior, encontraremos uma explicação imediata desse fato na conexão existente entre a origem dessas ordens e as Cruzadas, pois, tanto para os cristãos, quanto para os judeus, parece que a “Terra Santa” nada mais designa que a Palestina. No entanto, a questão torna-se mais complexa quando se sabe que diversas organizações orientais, cujo caráter iniciático não pode ser colocado em dúvida, como os Assacis e os Drusos, receberam também o título de “guardiões da Terra Santa”. Aqui, de fato, não mais se trata da Palestina, mas é no entanto notável que essas organizações apresentem um grande número de traços comuns com as ordens de cavalaria ocidentais, com as quais algumas delas chegaram historicamente a estabelecer relações.

Cabe, assim, nos perguntarmos o que se deve entender, na realidade, por “Terra Santa”, e ao que corresponde exatamente o papel de “guardiões”, que parece ligado a um determinado gênero de iniciação, que se poderia denominar “cavaleiresco”, desde que déssemos a esse termo uma extensão mais ampla do que se entende comumente, mas que as analogias existentes entre as diferentes formas bastam para legitimá-lo. (Guénon)


Nem todos que participam da tradição alcançam o mesmo grau e preenchem as mesmas funções. Poderíamos mesmo fazer uma distinção entre as duas coisas, que, embora geralmente se correspondam de um certo modo, não são contudo solidárias de forma estrita, pois pode ocorrer que um homem seja intelectualmente qualificado para atingir os graus mais elevados, mas não seja apto só por isso para preencher todas as funções na organização iniciática. Aqui, são apenas as funções que devemos considerar; e, desse ponto de vista, diremos que os “guardiões” se mantêm no limite do centro espiritual, tomado em seu sentido mais amplo, ou no espaço da terceira muralha, que separa o centro do “mundo exterior” e, ao mesmo tempo, o coloca em contato com este. Por conseguinte, os “guardiões” têm uma dupla função: de um lado, são exatamente os defensores da “Terra Santa”, na medida em que impedem o acesso daqueles que não possuem as qualificações requeridas para nela penetrar, e constituem-se no que denominamos sua “cobertura exterior”, ou seja, ocultam-na dos olhares profanos; por outro lado, asseguram também certas relações regulares com o exterior.
(…)
Essas considerações nos levam a falar diretamente do segundo papel dos “guardiões” do Centro Supremo, papel que consiste, como dizíamos há pouco, em assegurar certas relações exteriores e, principalmente, podemos acrescentar, em manter a ligação entre a tradição primordial e as tradições secundárias e derivadas. Para que assim seja, é preciso haver, para cada forma tradicional, uma ou várias organizações constituídas dessa mesma forma, segundo todas as evidências, mas compostas de homens conscientes do que está além de todas as formas, ou seja, da doutrina única que é a fonte de todas as outras, em suma, da tradição primordial. (Guénon)

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